04 outubro 2007

almoços


Quando o povo, através dos seus representantes, chega ao poder - isto é, em democracia - o que é que o povo quer? Em primeiro lugar e acima de tudo, o povo quer almoços de borla. Se ficar doente quer que alguém lhe pague os cuidados de saúde; se tiver filhos, que exista alguém para lhe pagar a educação deles; quando fôr velho e não puder trabalhar, que esteja lá alguém para lhe dar uma reforma; se caír no desemprego, que haja alguém para lhe dar um subsídio; e mais recentemente, no caso de uma gravidez imprevista e indesejada, o povo também agradece a alguém que esteja lá para fazer o aborto de borla. Este alguém é o Estado.

Se eu interpreto bem, o Rui parece acreditar - um pouco à semelhança dos autores liberais modernos - que é possível persuadir o povo, através da opinião pública, ou dos seus representantes no Governo, a diminuir o Estado. Eu já acreditei nisso, mas hoje não acredito - e então num país de tradição católica, como Portugal, não acredito mesmo nada.

Desejar almoços de borla é uma atitude perfeitamente humana, e tendo a liberdade para os conseguir - porque em democracia é o povo que controla o Estado através dos governantes que elege - passa a ser também perfeitamente racional que os obtenha. É desta liberdade do povo em regime democrático para dispôr do Estado e utilizá-lo para satisfazer os seus interesses próprios - os almoços de borla - que resulta o aumento do peso do Estado na economia e na sociedade.

É por causa da liberdade (política), não por falta dela, que o Estado tem crescido em Portugal.

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