08 setembro 2007

uma direita inútil

Paulo Portas está de regresso à política activa. Vem com um ar bem mais ligeiro e descontraído do que aquele com que foi para férias, na sequência das sucessivas broncas em que se meteu para apear Ribeiro e Castro da liderança do partido e do resultado das eleições para a Câmara da capital. Anunciou novas caras e novos temas. Quanto às caras estamos ainda para as ver. Quanto aos temas, na maioria dos casos mais lhe valia manter os antigos. Quem esperava um discurso liberal teve direito à panaceia do costume sobre os pobrezinhos, as deficiências da pátria e o que o governo tem que fazer para dar solução a estes e a outros magnos problemas.

Sobre Marques Mendes e o PSD não há muito a dizer. Nem mesmo a disputa pela liderança em directas lhe espicaçou a conversa. Umas críticas a Sócrates e ao governo, uns reparos a Menezes e ao seu «populismo», o mais é o de sempre: cara serrada de homem sério e honrado, na expectativa que o país se comova e lhe caia no regaço, conforme a velha lei da política segundo a qual o poder não se conquista mas perde-se.

A direita continua, assim, sem encontrar um caminho alternativo ao socialismo de Sócrates. Porque, ao invés do que a opinião pública se tem vindo a convencer (e a ser convencida), este governo é mesmo de esquerda e é genuinamente socialista. Toda a sua acção tem por finalidade salvar, e não enterrar, o Estado Social. O governo de Sócrates diminuiu «gorduras» para salvar o paciente e não propriamente para o ver pelas costas. Em três anos, o governo não prescindiu de nenhuma das suas funções. Ao invés, aumentou substancialmente o seu espectro de actuação, como na educação e na saúde. Privatizar é palavra proibida, porque, o que o governo quer, muito legitimamente, diga-se, como emanação que é de um partido socialista, é salvar o sector público e fazê-lo crescer, se possível. Trata-se, no fim de contas, de aplicar a velha ideia da esquerda de que o socialismo é viável a partir do Estado, se houver boa gestão pública.

Em contrapartida, a direita não parece querer mudar o paradigma. Não ataca o Estado por aquilo que faz, mas pelo modo como o faz. Deixa-se arrastar para o campo do «inimigo», limitando-se a tentar encontrar novas fórmulas para fazer melhor do que ele. Isto é, para gerir melhor o Estado. É claro que perderá sempre este debate, como, a permanecer assim, continuará a ser completamente inútil aos liberais e aos conservadores.

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