Por isso, a universidade em Portugal acaba predominantemente a produzir - e os universitários mais conhecidos no país acabam predominantemente por ser - não biólogos, historiadores, escritores, sociólogos, filósofos, físicos, economistas, médicos ou artistas - mas políticos. A profissão invariavelmente mais representada nos governos portugueses, e nos lugares de nomeação no topo da administração, é a dos universitários.
Desde o início da sua carreira, normalmente ainda na casa dos vinte anos, que eles são treinados para isso. As primeiras promoções na carreira - frequentemente, a sua admissão na carreira -dependeram crucialmente da sua pertença a um grupo político na Faculdade. Passado alguns anos, é apenas natural que eles pretendam utilizar esse capital de experiência política, não já na estreiteza dos corredores da Universidade, mas no país at large.
A ambição passa a ser um lugar de topo na administração e, se possível, ministro. Em última instância, a ambição suprema do universitário português é a de ser ministro de alguma coisa. Para o conseguir, ele passa agora mais tempo na política do que na universidade - mas, quase que por um milagre que o meu post anterior talvez ajude a desvendar, ele continua a ser promovido na sua carreira académica, mesmo se raramente comparece na Faculdade, mesmo se já não produz trabalho académico há anos - excepto, ocasionalmente, o de repetir em meia dúzia de aulas rápidas ou conferências o material das aulas que preparou há décadas, agora misturado com algumas verdades da sua experiência política.
A universidade serve-lhe agora como mera base de apoio, o lugar aonde ele regressa sempre pela necessidade de ganhar a vida, quando está desempregado da política ou da administração. Mas a excitação já não está mais ali. A partir da universidade, e sentindo-se excluído da política, ele faz aquilo que desde há muitos anos se habituou a fazer e aquilo que o entusiasma - política. Faz política na universidade, nos jornais, na rádio e na televisão - quando consegue lá chegar -, nas conferências e nos debates em que participa. Porém, para quem o ouve e para quem o vê passa a ser tristemente óbvio que ele já não anda à procura da verdade. Pelo contrário, anda a fazer propaganda.
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