É claro que o maior vício da universidade portuguesa - e eu falo agora, predominantemente, da universidade pública - é a sua enorme politização. Que nenhum jovem pense que é possível, em Portugal, fazer carreira prosseguindo o ideal universitário de chegar à verdade.
Mais cedo ou mais tarde, ele vai dar-se conta de que todas as decisões de que dependem a sua progressão na carreira, começando pela sua admissão, o serviço docente que lhe é anualmente distribuído, as comissões e os conselhos de que fará parte, a abertura de vagas para os lugares a que pretende ascender, a composição dos júris que o hão-de avaliar em concursos, a sua aceitação junto dos colegas, a própria autorização para se apresentar a concursos - todas estas decisões dependem criticamente de ele pertencer a algum grupo dentro da universidade, e os vários grupos dentro universidade encontram-se definidos politicamente e de forma partidária.
Neste ambiente, não é possível a um universitário - a um único que seja - prosseguir o ideal de chegar à verdade sem que, em algum momento, a verdade ofenda um grupo. Se a ofensa da verdade é cometida sobre um grupo adversário, ele vai temporariamente tornar-se um herói aos olhos do seu próprio grupo. Porém, se ele prosseguir na busca do ideal universitário da verdade, tal como ela se apresenta à sua consciência profissional ou científica, é inevitável - é uma questão de tempo - que, mais cedo ou mais tarde, alguma das suas verdades ofenda os interesses do seu próprio grupo. É o princípio do fim. Se ele persistir nesta senda, a excomunhão virá mais cedo ou mais tarde e com ela o fim da sua carreira para todos os efeitos práticos.
Todo o jovem que alimente a ilusão de vir a realizar na universidade portuguesa esse grande ideal que é o de chegar à verdade, e decida prossegui-lo sem quaisquer compromissos e irrespectivamente das consequências da verdade, pode estar razoavelmente certo que, passados alguns anos, se terá transformado num cadáver académico.
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