No mundo universitário, não tem comparação o espaço de liberdade individual de que gozam os portugueses, em comparação com os canadianos. Eis outras diferenças para documentar esta tese:
Numa universidade portuguesa, um professor, seguramente a partir de uma certa fase da sua carreira, possui a liberdade de raramente ir à Faculdade, libertando o seu tempo para se envolver em outros projectos profissionais ou até segundos empregos, ou simplesmente para se dedicar à política.
Numa universidade canadiana, dificilmente um professor possui esta liberdade. O trabalho docente e, sobretudo a pressão para investigar e publicar, de que depende a sua progressão na carreira, não lhe deixam, regra geral, tempo nem fôlego para se dedicar a outras actividades que não sejam as da sua profissão de universitário. O lema "publish or perish" aplica-se a todos os professores, incluindo aqueles que se encontram no topo da carreira.
Numa universidade portuguesa, um estudante possui em geral vários graus de liberdade para fazer uma cadeira, correspondendo a outras tantas chamadas ou épocas de exame. Pelo contrário, numa universidade canadiana, o estudante possui apenas um grau de liberdade - não existem segundas chamadas ou segundas épocas de exame. O exame da cadeira é no dia tantos às tantas horas. Se o aluno reprovou, ou não compareceu, então terá de repetir a cadeira, mas só no próximo ano quando ela voltar de novo a ser oferecida.
Numa universidade canadiana, nenhum participante em debate académico - seja numa conferência, num seminário ou meramente numa aula - possui a liberdade de participar sem se ter documentado com as leituras recomendadas, ou sem que a sua intervenção junte algum elemento ao debate, ou ainda quando a sua intervenção possui um carácter vincadamente negativo, procurando destruír a argumentação dos outros sem que ele próprio ofereça uma contribuição positiva. Em todas estas circunstâncias, ele será prontamente calado pelos outros participantes no debate, pelo moderador da conferência ou pelo professor na aula.
Pelo contrário, nos debates académicos em Portugal, cada um é geralmente livre de se pronunciar quando quer, pelo tempo que quer, mesmo quando não se documentou para o debate, ainda quando a sua contribuição não junta nada ao debate ou quando visa simplesmente destruír o trabalho ou a argumentação do conferencista ou de outro participante no debate.
Existe mesmo em Portugal, na universidade e em outros fóruns, uma figura que seria totalmente interdita no Canadá, e que eu, com o decorrer do tempo, baptizei de assistente-conferencista. Esta é uma figura que aparece em quase todas as conferências realizadas em Portugal, universitárias ou não.
Este é o homem que decide ir assistir a um conferência e que, já no período do debate - depois do conferencista ter terminado a sua apresentação - pede a palavra e, de pé no meio da audiência, voltado para a mesa, fica ali às vezes meia-hora a falar e a apresentar a sua própria tese sobre o tema da conferência ou sobre outro assunto que, entretanto, lhe tenha ocorrido ao espírito - isto é, a fazer uma nova conferência. De assistente à conferência ele sentiu-se livre para se tornar, ele próprio, conferencista.
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