22 setembro 2007

Oh, se há...

Fundar uma teoria da sociedade - como faz o liberalismo moderno - na ideia abstracta e, por isso, necessariamente simplificadora da natureza humana conduz a uma descrição de uma sociedade abstracta, mas que não tem realidade nenhuma.

Procurar transpôr as conclusões e as leis dessa sociedade abstracta para a vivência de uma sociedade concreta, ou mesmo de uma pessoa, conduz inevitavelmente a erros grosseiros, a muito preconceito e seguramente alguma intolerância. Gostaria de ilustrar com um exemplo.

Partindo do elemento da natureza humana, segundo a qual as pessoas tendem a cuidar mais dos seus interesses próprios do que dos alheios, segue-se que uma pessoa que pretenda obter de outra um qualquer benefício, vai ter de dar algo em troca. Para exprimir esta ideia de que o homem é um ser essencialmente egoísta e, portanto, tudo na vida tem um custo, o economista Milton Friedman cunhou a frase "There is no such thing as a free lunch", a qual se tornou universalmente citada.

Esta frase, embora reconhecida e citada em todo o mundo - ainda mais pronunciada por um Prémio Nobel - é um verdadeiro cliché, um preconceito, porque ao procurar descrever a realidade, ela omite muito mais do que revela.

Os mais importantes almoços da nossa vida - sem os quais não estaríamos sequer hoje aqui a discutir se eles são pagos ou gratuitos - foram almoços de borla. Claro que há almoços de borla. Oh, se há...

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