O que terá levado o Expresso nessa entrevista, depois de perguntar ao Director-Geral dos Impostos se, em virtude da firmeza com que tinha conduzido o departamento fiscal nos últimos anos, alguma vez os cidadãos tinham sido agrestes para com ele - e ele ter respondido que não - o que terá levado o Expresso a dizer que sabia de um caso, embora estivesse ainda em segredo de justiça?
Tratava-se de um contribuinte, que o jornalista do Expresso nomeou, contra quem o Director-Geral dos Impostos tinha apresentado uma queixa-crime por injúrias e difamação, e que o entrevistado confirmou.
Era caso único. Durante o mandato do Director-Geral dos Impostos houve um único contribuinte no país que se revoltou contra a actuação do Director-Geral dos Impostos. Aparentemente, todos os outros contribuintes no país estavam satisfeitos com o seu desempenho e o Expresso, na mesma semana em que ele abandonou funções, até lhe ofereceu um Prémio.
O assunto foi tratado na primeira parte da entrevista e, na semana seguinte, na continuação da entrevista, agora já na revista, o assunto foi mencionado de novo, sempre na mesma perspectiva, e o contribuinte referido outra vez. Mas quem seria esse homem extravagante, o único no país a levantar a voz contra o Director-Geral dos Impostos, se todos os outros portugueses estavam satisfeitos, senão mesmo felizes, com o seu desempenho na função - a começar pelo Expresso que o tratava com tanta consideração profissional e que esta semana lhe viria até a oferecer um Prémio?
Poucas páginas adiante na revista, depois de finda a entrevista, o Expresso esclareceu os seus leitores, dedicando um pequeno espaço, mas exclusivo, a este contribuinte. Era um economista que, aparentemente, o facto mais saliente que tinha no seu currículo era o de ainda recentemente ter sido expulso de um blogue.
Poucos dias depois - no meio de Agosto - o contribuinte recebeu o despacho de acusação do ministério público - era acusado pelos crimes de injúrias e difamação ao Director-Geral dos Impostos, o qual, para além das penas previstas na lei, lhe exigia uma indemnização equivalente a quatro meses do seu vencimento de Director-Geral dos Impostos - cerca de cem mil euros.
O que terá levado o Expresso a tratar o Director-Geral dos Impostos, a quem o Expresso ouviu longamente sobre esse e outros assuntos, da forma justa e favorável que ele merecia - uma pessoa de bem, profissionalmente competente e justa - e a tratar o contribuinte, a quem o Expresso não ouviu sobre o assunto, da forma igualmente justa e desfavorável que ele merecia - um homem algo extravagante, economista, cuja saliência curricular era a de ter sido expulso de um blogue?
O que terá levado o Expresso?
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