Se a minha avaliação anterior é correcta, parece razoavelmente seguro que a postura liberal anti-estado é mera ideologia - uma receita pronta a ser servida para o bem comum da humanidade, irrespectivamente da cultura e das circunstâncias concretas de cada país.
O Canadá é o exemplo acabado do país que não teria sido possível sem Estado, e muito menos seria aquilo que hoje é - um dos países mais desenvolvidos do mundo - sem a acção decisiva e extraordinariamente produtiva do Estado.
O Canadá é o segundo maior país do mundo em extensão, logo a seguir à Rússia. Porém, a sua população é comparativamente pequena - 32 milhões de habitantes, 20 milhões há vinte anos atrás - o que lhe confere a característica de ser um dos países do mundo com menor densidade populacional - 3.2 habitantes por Km2 (Portugal tem 118, isto é, quarenta vezes mais).
Atravessar o Canadá de uma ponta a outra - uma distância de mais de seis mil quilómetros - é equivalente a viajar de Portugal para o Canadá: o país possui, pois, uma largura que é maior que a do oceano Atlântico. Qual seria a empresa privada que lançaria uma linha de caminho de ferro através do país - onde estariam os passageiros para a tornar rentável?
E, no entanto, o país possui uma rede transnacional de caminhos de ferro - a Canadian National - a qual, obviamente, é uma empresa pública. Onde estariam os clientes para tornar rentáveis investimentos privados à escala nacional em auto-estradas, hospitais, escolas e universidades, redes telefónicas e de electricidade, transporte aéreo, equipamentos portuários e aeroportuários, redes de esgotos e de abastecimento de água e, no caso de muitas localidades isoladas, até no fornecimento de alimentos e medicamentos? Onde estariam, se em cada quilómetro quadrado do país existem apenas, em média, pouco mais de 3 pessoas?
Não estariam.
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