17 setembro 2007

é caso para perguntar


A maior distinção que é concedida no mundo pelo trabalho intelectual é, seguramente, o Prémio Nobel. Portugal possui dois, Egas Moniz (Medicina, 1949) e José Saramago (Literatura, 1998).

A curiosidade em relação a José Saramago é a de que não é, nem nunca foi, um universitário, sugerindo que a universidade portuguesa não tem sido talvez - excepto a curtos intervalos - um espaço de liberdade que favoreça a criatividade e a inovação. Na realidade, um seu livro foi excluído de se candidatar a um Prémio literário em Portugal poucos anos antes de receber o Prémio Nobel.

O caso de Egaz Moniz é ainda mais curioso, na sua relação com a universidade. Licenciou-se em Coimbra e depois foi estudar para Paris onde produziu, embora em forma seminal, as primeiras descobertas que o haviam de tornar célebre.

Regressou a Portugal em 1902 e tornou-se professor de Medicina na Universidade de Coimbra. No ano seguinte, já estava na política. Foi deputado ao Parlamento entre 1903 e 1917 - e, entretanto, por conveniência de serviço, transferiu-se da universidade de Coimbra para a de Lisboa. Depois foi ministro das relações exteriores (1918) e ainda embaixador em Espanha (1918-19), pelo caminho fundou um partido político e esteve preso duas vezes. No início dos anos 20, aparentemente desempregado da política, regressou à universidade.

É caso para perguntar o que é que este homem, na altura já um universitário e cientista conhecido - e, sabemo-lo agora, futuro Prémio Nobel da Medicina - andou a fazer na política durante quase vinte anos, quando a sua profissão era a de universitário e médico?

A atracção pela política nunca mais a perdeu. Até que Salazar chegou ao poder, primeiro como ministro das finanças (1928), a seguir como primeiro-ministro (1932) e fez, pelo menos duas coisas boas - aos militares que andavam metidos na política mandou-os de volta para os quarteis, e aos universitários que na política andavam metidos, enviou-os de volta para as universidades.

No final de 1935, agora, finalmente, como verdadeiro universitário - que Salazar nunca mais lhe permitiu veleidades na política -, Egas Moniz, juntamente com Almeida Lima, deu a contribuição decisiva às suas investigações. O Prémio Nobel chegaria em 1949.

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