20 agosto 2007

O outro lado do bom David


Basta que o plano ou esquema global seja o necessário para conservar a sociedade civil e que, no essencial, a balança do bem prepondere em muito sobre o mal. Ainda que as leis gerais do universo tenham sido planeadas com Infinita Sabedoria, são incapazes de excluir todo o mal ou inconveniência de cada acção particular. (David Hume)




David Hume (1711-1776), reagindo a Spinoza, recusa qualquer fundamentação racional da ética: a razão não é capaz de fomentar a permanência e a coesão: “não é suficiente ... por si só, para produzir censura ou aprovação.

Para Hume, a sociedade não é resultado da astúcia da razão (Hobbes), estando mais perto de Pascal do que de Descartes: a natureza humana não é redutível à razão; a vontade, o sentimento, a capacidade afectiva, a imaginação são, vitalmente, mais importantes. O que não significa que ética de Hume possa ser reduzida a uma mera questão de sentimento, a uns hábitos - no sentido de costumes - segundo os quais nos parecem más as coisas chocantes, desagradáveis, provocantes.

Hume não é um moralista normativo mas descritivo. E, neste ponto, a teoria da virtude converte-se no objecto directo do seu exame. Hume, seguindo o espírito científico, considera que a moralidade se deve apoiar em questões de facto; já não pode ser gratuitamente especulativa. Para ele, a justiça é a virtude suprema. A justiça é o vínculo da vida social: as regras de justiça têm por objecto o bem ou interesse comum, a utilidade de todos; mas politicamente o vínculo é a sua utilidade.

Por isso, considera que o governo justo não é só o que estabelece a paz e a segurança, mas o que actua imparcialmente; de acordo com o interesse comum ou utilidade.

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