David Hume é o pai do relativismo moral moderno, a ideia de que certos comportamentos e os seus opostos podem - e, nalguns casos, devem - ser aceites numa base de igualdade moral. É em Hume que a homossexualidade recebe, pela primeira vez na história da filosofia moderna, a benção da moralidade.
A contestação da moral tradicional estava em curso no seu tempo, especialmente nos salões de Paris. Quando em 1763, aos 52 anos de idade, recebeu o convite para acompanhar o Conde de Hertford como secretário da embaixada britânica em Paris, Hume, primeiro, considerou declinar "because I was afraid that the civilities and gay company of Paris would prove disagreeable to a person of my age and humour (...)". Acabou por aceitar e o balanço da estadia foi memorável: "There is (...) a real satisfaction in living at Paris from the great number of sensible, knowing and polite company with which that city abounds above all places in the universe". (1)
Para Hume, nem a razão, e menos ainda a religião, são as fontes da moral. As fontes da moralidade são os sentimentos, as paixões, as inclinações humanas - numa palavra, os feelings. Na filosofia de Hume, é moral todo o comportamento que receba o acordo das partes envolvidas e acerca do qual elas se sintam bem. "If you feel good about it, it is moral" é o lema da moralidade humeana.No domínio da sexualidade, esta filosofia coloca no mesmo plano moral a homossexualidade e a heterossexualidade. Em termos mais gerais, ela tende a reconhecer legitimidade moral a todos os comportamentos que a moralidade tradicional condenava - provided you feel good about it - como o aborto, a eutanásia ou o ateísmo.
Na realidade, se, nas últimas décadas, com origem nos EUA - onde o pensamento de Hume foi imensamente influente através dos founding fathers, em especial James Madison - e, depois, propagando-se à Europa, a comunidade homossexual conseguiu, primeiro, saír do gueto moral em que se encontrava e, depois, reclamar activa e publicamente os seus direitos em condições de igualdade com a comunidade heterossexual, ela bem pode agradecer a David Hume que é, inquestionavelmente, o seu patrono moderno.
(1) Cf. My Own Life, op. cit. (bold meu)
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