Numa ocasião anterior, eu referi que a minha participação no Blasfémias entre Outubro e Abril passado foi uma experiência muito interessante, em parte porque repetiu experiências anteriores da minha própria vida. Em posts anteriores, tratei duas facetas dessa experiência. Gostaria hoje de referir outra.
Nos dias que antecederam a minha saída foi crescendo a pressão em certos sectores da blogosfera para que eu saísse, ou fosse expulso, do blogue; uma parte dessa pressão vinha de dentro do blogue, a outra era externa, e existia uma relação entre as duas. A pressão externa teve dois focos principais; um estava centrado numa revista que se apresenta de direita e que possui um blogue com o mesmo nome; o outro estava centrado na Universidade do Minho e exprimia-se através de vários blogues, incluindo o Blasfémias.
A pressão externa manifestou-se através da publicação de vários posts em que os seus autores ameaçavam o Blasfémias colectivamente, e alguns dos seus membros individualmente, que, enquanto eu escrevesse lá, eles não visitariam mais o blogue, e nem o corte de relações pessoais e até profissionais ficou excluído do horizonte. Alguns bloggers chegaram mesmo a deslinkar o Blasfémias dos seus respectivos blogues - o que constitui, creio eu, um dos castigos mais duros que se podem infligir na blogosfera.
Foi, por isso, com surpresa, quando, há três dias atrás, e uns quantos posts mais abaixo, eu deparei com o Rui A. a terçar armas com certos bloggers - e eu era o centro do debate. E quando procurei pela identidade deles, descobri que se tratava exactamente daqueles mesmos bloggers que tinham ameaçado o Blasfémias de nunca mais o visitar enquanto eu lá escrevesse.
Ameaças vãs, como se vê, porque a realidade é que eles não podem passar sem mim - agora, aqui no Portugal Contemporâneo.
Aqueles dois focos de pressão são formados por pessoas que genericamente se qualificam como intelectuais, pessoas que ganham a vida com a pena e com a língua - um ligado à comunicação social, o outro à universidade. Eu não seria perfeitamente sincero se dissesse que não atribuo importância aos intelectuais porque, ao longo da minha vida, já fui várias vezes o alvo da sua intolerância e, pelo menos uma vez, os prejuízos pessoais foram apreciáveis. Trata-se tipicamente de uma classe de pessoas que, quando tenho de lidar com elas em grupo, eu mantenho um olho no burro e o outro no cigano.
Aquilo que eu penso acerca dos intelectuais está resumido no último parágrafo do livro que Paul Johnson lhes dedicou e que tem precisamente o título Intellectuals:
"Taken as a group, they [ the intellectuals] are often ultra-conformist within the circles formed by those whose approval they seek and value. That is what makes them, en masse, so dangerous, for it enables them to create climates of opinion and prevailing orthodoxies, which themselves often generate irrational and destructive courses of action. Above all, we must at all times remember what intellectuals habitually forget: that people matter more than concepts and must come first. The worst of all despotisms is the heartless tyranny of ideas".
(Paul John, Intellectuals, New York: Harper & Row, 1988, p. 342)
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