De entre todos os pensadores modernos, aquele que, na minha opinião, teve uma influência mais destruidora sobre os países de tradição católica como Portugal, e sobre a própria Igreja Católica, foi Descartes. A tal ponto que eu estou convencido que Descartes é ainda hoje o inimigo número um da Igreja e de todos os países que estiveram tradicionalmente submetidos à sua influência dominante, como foi o caso de Portugal e Espanha e de todos os seus descendentes na América Latina.
Em Portugal, a prevalência da cultura cartesiana entre homens e mulheres educados pelo sistema formal de ensino - incluindo a Universidade - é extraordinária. Eles identificam-se por várias características, a primeira das quais é a sensação com que se fica, depois de os ouvir falar, de que o mundo nasceu com eles.
Descartes declarou que não iria acreditar em nada que não fosse demonstrável pela (sua) razão, que ele pretendia ser uma razão universal. A primeira consequência da atitude cartesiana é, então, a de questionar o passado - as suas instituições, os seus princípios, as suas tradições, os seus mitos, as suas crenças - e, não encontrando nele uma racionalidade satisfatória ou sequer aparente, rejeitá-lo. Daí que a característica número um de todos os cartesianos seja a sua rejeição do passado e o desprezo que nutrem pela experiência. Ao ouvi-los falar, fica-se, na realidade, com a ideia de que, antes deles, não havia mundo e que, sem eles, o mundo não seria possível.
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