Já em tempos assinalara aqui, no Blasfémias, as minhas fundadas reservas sobre essa recente mania nacional que consiste em fazer tatuagens. Lembrei, até, a triste sina de um amigo que ganhou a pesada alcunha de «spiderman», à custa de um devaneio estival com uma dessas moças insuspeitamente tatuadas, facto que ele somente descobriu, como na altura contei, em circunstâncias impossíveis de retroceder. A alcunha ainda hoje se mantém, e o pobre diabo não voltou a ser o mesmo.
Afastado há dois anos das praias portuguesas, constato agora que a moda não só não esmoreceu como se agravou. De tal modo, que quase se pode dizer que são raros os indígenas que não ostentem uma tatuagem no bíceps, nas costas, no umbigo, nas pernas, nos pés ou no pescoço, ou mesmo em vários sítios destes ao mesmo tempo. E se me afectam pouco, ou mesmo nada, as «mensagens» gravadas nos couros masculinos, ou até femininos, desde que já com um certo uso e rigidez, não direi o mesmo dessa «arte» gravada em peles femininas mais suaves e menos gastas. Chateia-me!
Hoje mesmo, cruzei-me com dois desses últimos inexplicáveis exemplares. Ambos tinham gravadas tatuagens ao fundo das costas, no cóxis. Uma dizia simplesmente «Carvalho». Estava gravada em forma de meia-lua, como os néons florescentes dos bares de má nota, ou as marcas das ganadarias. Presume-se que o dito «Carvalho» seja, ou tenha sido, o macho daquela fêmea, o amor da vida dela, o seu mais-que-tudo, ao ponto dela ter aceitado gravar o seu desagradável nome naquela agradável parte do seu corpo. Como se ela pertencesse eternamente ao dito cujo e fosse coisa sua. Uma «coisa» do Carvalho, digamos. O mal de tudo isto está na volatilidade das relações amorosas, que facilmente se desfazem nos dias que correm, e na quase impossibilidade de fazer desaparecer estas demonstrações de paixão passada. Imagine-se, pois, que a seguir ao dito «Carvalho» se sucedeu, ou sucederá, um Silva, um Mendes, um Antunes. E imagine-se o que não será o dilema existencial e amoroso, quase um dilema moral, desse imaginado Antunes, Mendes ou Silva quando, em actos de amorosa intimidade consentida ou abusada, se tem de confrontar com a memória do infame «Carvalho». E logo em paragens tão puras e castas.
O segundo caso é menos agressivo, mas mais ininteligível. Na mesma zona do fundo das costas, uma simpática veraneante exibia uma pujante tatuagem do brasão da Federação Portuguesa de Futebol. Se a explicação do «Carvalho» me pareceu de linear evidência, já o símbolo da FPF gravado no coxis, por mais que puxe pela imaginação, permanece, para mim, incompreensível. Não creio que nem o senhor Madaíl, nem o grande Scolari, menos ainda o incontável número de mânfios que vão enchendo os plantéis da Selecção Nacional, possam justificar tanta paixão. Erro meu, certamente.
Afastado há dois anos das praias portuguesas, constato agora que a moda não só não esmoreceu como se agravou. De tal modo, que quase se pode dizer que são raros os indígenas que não ostentem uma tatuagem no bíceps, nas costas, no umbigo, nas pernas, nos pés ou no pescoço, ou mesmo em vários sítios destes ao mesmo tempo. E se me afectam pouco, ou mesmo nada, as «mensagens» gravadas nos couros masculinos, ou até femininos, desde que já com um certo uso e rigidez, não direi o mesmo dessa «arte» gravada em peles femininas mais suaves e menos gastas. Chateia-me!
Hoje mesmo, cruzei-me com dois desses últimos inexplicáveis exemplares. Ambos tinham gravadas tatuagens ao fundo das costas, no cóxis. Uma dizia simplesmente «Carvalho». Estava gravada em forma de meia-lua, como os néons florescentes dos bares de má nota, ou as marcas das ganadarias. Presume-se que o dito «Carvalho» seja, ou tenha sido, o macho daquela fêmea, o amor da vida dela, o seu mais-que-tudo, ao ponto dela ter aceitado gravar o seu desagradável nome naquela agradável parte do seu corpo. Como se ela pertencesse eternamente ao dito cujo e fosse coisa sua. Uma «coisa» do Carvalho, digamos. O mal de tudo isto está na volatilidade das relações amorosas, que facilmente se desfazem nos dias que correm, e na quase impossibilidade de fazer desaparecer estas demonstrações de paixão passada. Imagine-se, pois, que a seguir ao dito «Carvalho» se sucedeu, ou sucederá, um Silva, um Mendes, um Antunes. E imagine-se o que não será o dilema existencial e amoroso, quase um dilema moral, desse imaginado Antunes, Mendes ou Silva quando, em actos de amorosa intimidade consentida ou abusada, se tem de confrontar com a memória do infame «Carvalho». E logo em paragens tão puras e castas.
O segundo caso é menos agressivo, mas mais ininteligível. Na mesma zona do fundo das costas, uma simpática veraneante exibia uma pujante tatuagem do brasão da Federação Portuguesa de Futebol. Se a explicação do «Carvalho» me pareceu de linear evidência, já o símbolo da FPF gravado no coxis, por mais que puxe pela imaginação, permanece, para mim, incompreensível. Não creio que nem o senhor Madaíl, nem o grande Scolari, menos ainda o incontável número de mânfios que vão enchendo os plantéis da Selecção Nacional, possam justificar tanta paixão. Erro meu, certamente.
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