26 agosto 2007

Curiosamente

Como é possível que um país tão pequeno como Portugal, que, no século XV, não tinha mais de um milhão de habitantes, tenha colonizado meio mundo?

Num post anterior, citando o historiador americano David Landes, indiquei uma razão. Portugal, ao contrário da Espanha, empreendeu a aventura dos Descobrimentos de uma forma sistemática e científica e isso implicou, entre outras coisas, colocar os seus escassos postos comerciais e militares em locais estratégicos, judiciosamente escolhidos nas rotas marítimas descobertas.

Noutro post, citei a escritora brasileira Dutra de Meneses: "Quem já fez amor com um português compreende porque é que eles colonizaram meio mundo". E, na realidade - ao contrário dos espanhóis -, não dispondo de um exército numeroso, que a população do país não dava para isso, não restava aos portugueses senão misturarem-se com a população local.

A verdade, porém, é que por mais judiciosamente escolhidos que fossem os entrepostos comerciais e militares, e por melhores que os portugueses fossem na cama, como é que um país de apenas um milhão de habitantes - dos quais apenas metade seriam homens e, destes, apenas uma pequena fracção partiu nas expedições - conseguiu colonizar, ao mesmo tempo, várias territórios em África, ainda outros na Índia, também na China, pôr ainda um pé no Japão, para além da imensidão do Brasil e mais umas quantas ilhas entre oceanos?

A razão principal foi a Igreja Católica e os missionários. Foram os missionários que, convertendo as populações ao cristianismo, asseguraram a sua lealdade à coroa portuguesa. Os missionários fizeram pacificamente para a coroa portuguesa aquilo que as armadas fizeram pela força para a coroa espanhola, sendo o papel dos missionários neste caso comparativamente menor.

O Marquês de Pombal viveu oito anos em Inglaterra (1735-43), onde a Igreja Católica era perseguida, e meteu-se-lhe na cabeça que um país moderno - como ele olhava a Inglaterra - era um país que perseguia a Igreja Católica. E foi isso que ele fez quando tomou o poder em Portugal, expulsando os jesuítas (1759) e confiscando-lhes os bens e, de uma maneira geral, perseguindo os padres e iniciando no país uma tradição de anti-clericalismo que ainda hoje perdura.

A partir daí o nosso império tremeu e não podia senão decaír. A primeira vítima foi o Brasil. Os missionários jesuítas tinham sido decisivos na colonização do Brasil. Agora, que os jesuítas eram perseguidos na metrópole, e os seus bens confiscados, os padres jesuítas no Brasil, e os de outras confissões, começaram, eles próprios, a incentivar a população local a cortar os laços com Portugal. A influência decisiva que tinham na educação não demorou muito tempo a produzir uma geração de independentistas no Brasil. E o Brasil tornou-se independente em 1822.

Curiosamente, logo após a independência, o país que tomou o lugar de Portugal no monopólio do comércio que este possuía com o Brasil, foi precisamente aquele país que tinha ensinado o Marquês de Pombal a construir um país moderno e próspero - a Inglaterra.

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