Quando, num post abaixo, o Rui desafiou os seus leitores a escolherem entre o Descartes e o Hayek, eu fui o primeiro a responder: Descartes!
Posteriormente, avancei uma razão, mas não a mais profunda, que na altura, eu não me sentia ainda em condições de formular. Faço-o agora.
Descartes, que é considerado o primeiro filósofo moderno, é também às vezes referido como o último dos escolásticos. E, na realidade, ele foi o último de uma longa série de filósofos, ao longo de muitos séculos, que reportavam a Deus. Ele foi o último dos filósofos genuinamente comprometido com a verdade, e sempre guiados pela preocupação de chegar à verdade. Não interessa se lá chegou ou não e quantos erros cometeu.
A partir de Descartes - não obstante algumas excepções, é certo - foi uma desgraça. Os filósofos passaram a reportar a si próprios, ao povo, aos seus colegas de departamento académico, ao partido ou ao poder político. Não era possível mais acreditar que eles estavam genuinamente empenhados na procura da verdade.
E a filosofia, que até aí tinha sido uma prodigiosa aventura do espírito humano em busca da transcendência, tornou-se uma teologia secular - para conhecer o eu, para vender um novo projecto de sociedade ao povo, para obter uma promoção académica, para conseguir uma sinecura do partido ou para aconselhar o mais recente primeiro-ministro a conservar o poder.
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