23 agosto 2007

Ainda sobre Adam Smith e David Hume


A amizade e a admiração pelo pensamento de Hume, não impediram Smith de reagir contra muitos dos seus pontos de vista, como acontece em relação à utilidade da acção.



Enquanto, em Hume, permanece a ideia de que toda a acção tem um fim prático, Smith insiste em que, quando aprovamos a conduta de um homem, o fazemos porque é apropriada e, não só porque é útil. Um comportamento apropriado é bom em si mesmo, para além de ser fonte de felicidade pessoal e de prosperidade social.


Por outras palavras, homem para Smith não actua com vista a obter uma utilidade, ainda que isto não o impeça de reconhecer, a posteriori, que as acções virtuosas são úteis e as viciosas o não são. Uma postura que parece um claro reflexo de uma conhecida frase de Locke: a rectidão de uma acção não depende da utilidade, antes a utilidade é uma consequência da rectidão.


Para Smith, são as regras de conduta que tornam possível a vida em sociedade e a cooperação. A debilidade da natureza humana não resistiria a uma existência isolada. O homem necessita de se integrar num grupo para a sua sobrevivência e desenvolvimento. Por essa razão, a Natureza, na sua sabedoria, dotou a raça humana de aptidões e qualidades que a induzem à vida em sociedade e, inclusive, que a movem a buscar o respeito e a aprovação dos outros.

Entre os dotes do homem, Adam Smith salienta, para além da simpatia e das paixões, as virtudes, tanto mais que, apesar do papel central da simpatia, que é a pedra angular da sua filosofia, do sistema conceptual que constrói, o sistema moral de Smith é, na realidade, um sistema adornado de virtudes.


O espectador imparcial de Adam Smith não se contenta em garantir que a humanidade se alimente, deseja também que mostre “sentimentos generosos, nobres e ternos” e que desfrute de mentes activas, curiosas e inovadoras. Deseja que o homem atinja um equilíbrio entre os diversos aspectos da vida. Smith estava consciente de que a insensatez humana poderia levar a um desequilíbrio.


A obsessiva admiração da riqueza é, em última instância, a grande e universal causa da corrupção dos nossos sentimentos morais. A virtude estrita exige um sentido de perspectiva e de moderação. Se deseja alcançar um equilíbrio, torna-se necessário perseguir simultaneamente todas as três virtudes de “prudência, justiça rigorosa e correcta benevolência”.

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