Em décadas sucessivas, antes até, mas pelo menos a partir de 1945, os conservadores europeus viveram em torno de um único problema: a questão soviética e a ameaça comunista. O resto estava relativamente «bem» resolvido, com o keynesianismo, a doutrina social da Igreja e o sufrágio universal. O surto desenvolvimentista que a Europa Ocidental conheceu no pós-guerra, parecia confirmar que esse modelo de organização política, económica e da sociedade era de todos o melhor e mais seguro.
Isto foi assim até à crise petrolífera de 73 e ao fim das ilusões com o intervencionismo desmesurado na década de 80. Durante esse período de tempo, os conservadores reformistas foram colher ao liberalismo hayekiano os fundamentos teóricos para as transformações necessárias dos seus países. O fim do bloco de leste, iniciado em 1989, por um lado, fez acelerar a reconversão das economias nacionais, privatizando-as, e, por outro, deixou os conservadores sem inimigo à vista.
Daí que, nos últimos anos, o que os conservadores têm vindo a fazer é procurar desalmadamente um novo inimigo. A razão é simples: o conservadorismo é uma ideologia reaccionária, no sentido de que se afirma em reacção e em contraposição a algo, invariavelmente a um qualquer «perigo» real ou imaginário (a revolução, a modernidade, a ciência, a laicização, o comunismo, etc.). A existência de um «inimigo» é condição fundamental para que o conservadorismo se defina. Falhando o «inimigo», falha o essencial da sua doutrina.
Daí que, nos últimos anos, o único movimento assumidamente conservador na política ocidental tenha sido o neoconservadorismo americano, marcado pela busca desesperada de um novo «inimigo» global, que viesse substituir o comunismo soviético. Como sabemos, esse «inimigo» foi encontrado no Médio Oriente. Os resultados dessa opção têm sido desastrosos, ensombrando os dois mandatos republicanos de George W. Bush e tendo disseminado, quase por completo, o que foi um importante movimento político no começo do século actual.
Quanto ao mais, isto é, ao conservadorismo europeu, ele perdeu praticamente qualquer sentido. As suas ideologias mais marcantes, a democracia cristã e a democracia social, não afirmam nos dias correntes um valor, um princípio, uma regra para a polis. Os seus partidos pairam no espaço etéreo da vacuidade intelectual, onde ninguém pensa, nem acha sequer que isso seja necessário. São agremiações que visam a conquista e o exercício do poder do Estado a qualquer custo, com qualquer programa político, a tal ponto que um cidadão médio não os consegue praticamente distinguir dos seus competidores mais próximos, os partidos socialistas.
Em contrapartida, os liberais pensam, mas não têm qualquer pretensão a executar o que defendem. Os liberais são, por regra e princípio, avessos ao Estado, ao ponto de lhes desagradar envolverem-se com ele. O que, de resto, se compreende: se o liberalismo é uma filosofia e uma pedagogia de cidadania para defesa do indivíduo perante os poderes públicos, ele dificilmente poderia nascer de quem exerce estes últimos.
Em síntese, os liberais poderão fornecer aos partidos conservadores aquilo de que eles mais carecem: uma ideologia e um pensamento para a sua actuação política. A condição mínima parece evidente: que esses valores sejam honrados, quer na oposição, quer no governo, pelos seus responsáveis. Se assim for, e enquanto for assim, o casamento entre liberais e conservadores poderá ser (quase) perfeito.
Isto foi assim até à crise petrolífera de 73 e ao fim das ilusões com o intervencionismo desmesurado na década de 80. Durante esse período de tempo, os conservadores reformistas foram colher ao liberalismo hayekiano os fundamentos teóricos para as transformações necessárias dos seus países. O fim do bloco de leste, iniciado em 1989, por um lado, fez acelerar a reconversão das economias nacionais, privatizando-as, e, por outro, deixou os conservadores sem inimigo à vista.
Daí que, nos últimos anos, o que os conservadores têm vindo a fazer é procurar desalmadamente um novo inimigo. A razão é simples: o conservadorismo é uma ideologia reaccionária, no sentido de que se afirma em reacção e em contraposição a algo, invariavelmente a um qualquer «perigo» real ou imaginário (a revolução, a modernidade, a ciência, a laicização, o comunismo, etc.). A existência de um «inimigo» é condição fundamental para que o conservadorismo se defina. Falhando o «inimigo», falha o essencial da sua doutrina.
Daí que, nos últimos anos, o único movimento assumidamente conservador na política ocidental tenha sido o neoconservadorismo americano, marcado pela busca desesperada de um novo «inimigo» global, que viesse substituir o comunismo soviético. Como sabemos, esse «inimigo» foi encontrado no Médio Oriente. Os resultados dessa opção têm sido desastrosos, ensombrando os dois mandatos republicanos de George W. Bush e tendo disseminado, quase por completo, o que foi um importante movimento político no começo do século actual.
Quanto ao mais, isto é, ao conservadorismo europeu, ele perdeu praticamente qualquer sentido. As suas ideologias mais marcantes, a democracia cristã e a democracia social, não afirmam nos dias correntes um valor, um princípio, uma regra para a polis. Os seus partidos pairam no espaço etéreo da vacuidade intelectual, onde ninguém pensa, nem acha sequer que isso seja necessário. São agremiações que visam a conquista e o exercício do poder do Estado a qualquer custo, com qualquer programa político, a tal ponto que um cidadão médio não os consegue praticamente distinguir dos seus competidores mais próximos, os partidos socialistas.
Em contrapartida, os liberais pensam, mas não têm qualquer pretensão a executar o que defendem. Os liberais são, por regra e princípio, avessos ao Estado, ao ponto de lhes desagradar envolverem-se com ele. O que, de resto, se compreende: se o liberalismo é uma filosofia e uma pedagogia de cidadania para defesa do indivíduo perante os poderes públicos, ele dificilmente poderia nascer de quem exerce estes últimos.
Em síntese, os liberais poderão fornecer aos partidos conservadores aquilo de que eles mais carecem: uma ideologia e um pensamento para a sua actuação política. A condição mínima parece evidente: que esses valores sejam honrados, quer na oposição, quer no governo, pelos seus responsáveis. Se assim for, e enquanto for assim, o casamento entre liberais e conservadores poderá ser (quase) perfeito.
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