03 julho 2007

um mal?

Provavelmente, uma das características principais da literatura neoliberal é a distinção que faz entre as instituições voluntárias da sociedade, como a família, a empresa ou a associação recreativa, por um lado, e o Estado, por outro.

A sociedade fica assim dividida entre dois tipos de instituições, aquelas que resultam da vontade livre das pessoas e aquela outra que é imposta às pessoas - o Estado. Sendo que as pessoas preferem aquilo que é o resultado livre da sua vontade àquilo que lhes é imposto, segue-se que o Estado aparece na literatura neoliberal como um mal, um mal que deve ser minimizado - daí a tese do Estado mínimo - e, no limite, totalmente dispensado - daí a tese anarquista (Rothbard).

Tem sido o Rui A. que neste blogue, de forma gradual e persistente, mais se tem interrogado sobre os pressupostos desta tese. Não será o Estado afinal - pergunta ele - também uma instituição que resulta da vontade livre das pessoas, e portanto, uma instituição voluntária ou espontânea no mesmo sentido em que o são a família, a empresa ou o grupo recreativo?

A resposta parece ser, obviamente afirmativa. Sempre que uma sociedade humana se sentiu unida por certos traços comuns de carácter nacional, a sua primeira ambição foi criar um Estado, que fosse ao mesmo tempo o símbolo da sua independência e uma afirmação da sua liberdade. Foi assim em Portugal no século XII, foi identicamente assim na América no século XVIII, foi assim por toda a parte no mundo.

Existe, porém, uma excepção - a nação judaica. Esta nação nunca teve um Estado (excepto muito recentemente e, quando o criou, fê-lo obviamente de forma voluntária). Pelo contrário, ao longo da sua história de milénios, onde quer que se instalasse, o Estado que encontrava nos países que a recebiam não era o seu Estado, um Estado que tivesse resultado da vontade livre dos seus membros. Pelo contrário, era um Estado exterior, exógeno à comunidade judaica e, portanto, um Estado que lhe era imposto.

A concepção neoliberal do Estado como uma instituição imposta à sociedade é uma concepção tipicamente judaica - e que não tem nada que ver com a concepção cristã do Estado. Daí a concluir que o Estado é um mal e que, portanto, deve ser minimizado ou até prescindido vai um passo que os autores neoliberais não hesitaram em dar.

2 comentários:

CN disse...

Vou insistir

1. O anarco-capitalismo de Rothbard não é "neo-liberal e Rothbard como judeus tem péssimas credenciais (não só por ter sempre mostrado admiração pela ICAR como é critico de Israel o do sionismo, é o expoente máximo da teoria anti-war libertarian o que inclui o suadável revisionismo critico das guerras do século 20, e próximo de algumas posições de conservadores tradicionais católicos como por exemplo de Pat Buchanan, Thomas Fleming, Joe Sobran - os chamados paleo-conservatives herdeiros da Old Right americana).


2. O "neo-liberalismo" está sim associado com a Escola de Chicago, a quem Rothbard foi sempre hostil.

A hostilidade (muito elevado em alguns casos) de Rothbard a Chicago e os seus autores (Becker, Posner, Friedman, etc) valeu-lhe que a sua obra ficou fora do mainstream (mas agora está a conquistar adeptos de forma crescente).

Rothbard também criticou a excessiva importancia dada a Adam Smith (coisa impensável em "neo-lberais")


Além disso, Rothbard tornou-se o autor "austriaco" da geração seguinte a Mises (sim judeu agnostico mas "austriaco" na economia, a qual tem fundações nos escolásticos)


Assim,

* "neo-liberalismo" = Chicago.

* Rothbard (e seguidores) hostil a Chicago.

[Razão principal?

Chicago tende a ser:

* positivista, metodos estatísticos, "eficiências"
* utilitarista]


PS: Lembrar que foi Frank Knight - o "pai" de Chicago que impediu que o "Mont Pelerin" tivesse o nome de "dois aristocratas católicos".

Coisa que Rothbad nunca se lembraria de fazer.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Os curdos também não têm grandes razões para gostarem do estado. E, como eles, muitos que não os judeus... Reduzir o "neoliberalismo" a uma reacção judaica ao estado é extremamente redutor.
Para grande parte da população mundial a pertença a um estado não é voluntária. A maioria dos africanos adoraria não pertencer ao estado a que pertence. O mesmo acontecendo com chineses, mexicanos, indianos,...
O carácter voluntário do estado só se pode inferir se houver possibilidade de escolha, concorrência entre estados. Na UE estamos mais perto de obter isso, mas para a maior parte das pessoas, a pertença a um estado não é voluntária.
Uma última questão: se a lógica funcionar, os judeus passarão a ser fortemente estatistas no futuro com a criação de israel. Com a influência que aparentemente têm no mundo, estaremos a caminho do comunismo?