"Conhecido Juiz alentejano, perspicaz e minucioso em todos os actos da sua vida, veio transferido para uma comarca minhota. Corria então ali seus trâmites um célebre processo crime, oriundo de uma velha rixa entre duas freguesias, tendo sido disparados vários tiros, que produziram algumas mortes. A luta fora renhida, e até uma mulher apanhou nessa ocasião uma facada na barriga!
Em julgamento, lotação super-esgotada, uma testemunha presencial fez seu depoimento bastante longo e maçador. E quando os dignos Advogados findaram seus interrogatórios, dando-se por satisfeitos com as respostas obtidas, ainda por último o Meretíssimo Juiz insistiu, procurando mais precisão em algumas afirmações.
-Ora diga-me cá, senhora testemunha...
Responda com rigor. Em que altura da refrega apanhou a mulher a facada?
-Perdão, senhor Juiz, eu não dixe isso...
Ora a minha vida!... Não foi na refrega, foi entre a refrega e o imbigue...
A audiência continuou; mas passou a ser secreta".
(Montalvão Machado, O Bom Humor nos Tribunais, Porto: Livraria Aviz, 1967, pp. 38-39)
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