O neoconservadorismo americano distingue-se do conservadorismo tradicional pela sua política externa, a qual possui um carácter marcadamente agressivo. Os principais doutrinadores do neoconservadorismo foram e são, praticamente sem excepção, intelectuais de cultura judaica, como Leo Strauss, Allan Bloom e Irving Kristol.
Na equipa do Presidente Bush que pôs em prática a intervenção americana no Médio Oriente, encontram-se, não na primeira linha, mas sempre na segunda - outro traço da cultura judaica, a discrição da segunda linha - um número de políticos em que os judeus se encontram desproporcionalmente representados - Paul Wolfowitz, talvez o mais destacado dentre eles, Lewis Libby, Karl Rove, Douglas Feith e vários outros.
O neoconservadorismo americano e a intervenção americana no Médio Oriente e, em particular, no Iraque nunca foram bem aceites na Europa predominantemente cristã. A razão é que esse movimento intelectual e político é um produto típico da cultura judaica e que a cultura cristã tem grande dificuldade em aceitar.
A cultura judaica viveu, ao longo da sua história, em permanente conflito com outras culturas, ora constantemente sitiada ora, quando as circunstância o permitiam - como nos últimos 60 anos - passando à ofensiva. O conflito de culturas - em última instância, a guerra de culturas - é um traço dominante da cultura judaica e uma condição essencial da sua identidade.
Assim, Allan Bloom escreveu num dos livros mais influentes do neoconservadorismo americano:
"War is the fundamental phenomenon on which peace can sometimes be forced, but always in the most precarious way. Liberal democracies do not fight wars with one another because they see the same human nature and the same rights applicable everywhere and to everyone. Cultures fight wars with one another. They must do so because values can only be asserted or posited by overcoming others, not by reasoning with them. Cultures have different perceptions which determine what the world is. They cannot come to terms. There is no communication about the highest things (...). Culture means a war against chaos and a war against other cultures. The very idea of culture carries with it a value: man needs culture and must do what is necessary to create and maintain cultures. There is no place for a theoretical man to stand. To live, to have any inner substance, a man must have values, must be committed, or engagé".
(The Closing of the American Mind, , New York, Simon and Schuster, 1989, p. 202, bold meu).
Esta concepção da relação entre culturas é estranha à tradição cristã. Nesta tradição, todos os homens são filhos de Deus, e filhos iguais - não, como na tradição judaica, em que uns são filhos eleitos e outros são enteados. O conflito, e mais ainda a guerra, está excluído entre os filhos de Deus, a quem Ele quer igualmente bem, e a condição normal entre duas culturas é o diálogo, a conversação - reasoning with them.
A subcultura portuguesa do cristianismo foi, neste aspecto, razoavelmente exemplar na sua história. Não tendo, além disso, poder militar que alguma vez lhe permitisse ambicionar submeter outras culturas, dialogou com elas, conversou com elas, misturou-se com elas. Na tradição judaica, a relação entre culturas é conflito. Pelo contrário, na tradição cristã, a relação entre culturas é sobretudo conversação.
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