Eu estou hoje convencido que o liberalismo dos historiadores - o liberalismo clássico - é mais completo e adequado à tradição cultural portuguesa do que o liberalismo dos economistas modernos - o neoliberalismo e o libertarianismo (cf. post anterior).
À medida que vou conhecendo melhor a história e, em particular, a parte que mais me interessa - que é a história das ideias em Portugal ao longo dos últimos três a quatro séculos - eu fico surpreendido por uma certa tendência. Trata-se da tendência, ao longo deste período, por parte dos intelectuais portugueses, para procurarem importar em Portugal ideias que tiveram origem no estrangeiro, sem se preocuparem com a origem cultural dessas ideias e se, em particular, elas se adaptavam à cultura do seu próprio país.
Na realidade, o estudo da cultura portuguesa - que significa essencialmente o estudo da sua história - raramente lhes interessou. Perante a novidade de qualquer ideia aparecida num país da Europa, e mais recentemente da América, Portugal era imeditamente considerado um país atrasado e retrógrado, a menos que adoptasse as novas ideias vindas do estrangeiro e as instituições que elas projectavam. Se essas ideais se adaptavam à cultura secular do seu país era uma questão secundária, na realidade irrelevante. O resultado foi quase sempre desastroso.
Naturalmente que existiram excepções. Uma delas foi Alexandre Herculano, o qual eu não hesitaria juntar à galeria dos grandes liberais clássicos. Como a maioria deles, era historiador e um católico convicto. Apesar das suas vigorosas polémicas com o clero, ele soube sempre, porém, distinguir entre o ideal e a grandiosidade da instituição católica e as fraquezas humanas daqueles que, por vezes, a serviam.
A mais recente ideologia que entrou em Portugal - porque, na realidade, é de uma ideologia que se trata - é o liberalismo moderno, às vezes chamado neoliberalismo e, na sua versão extrema, libertarianismo. Ao contrário do liberalismo clássico, que é essencialmente europeu e cristão-católico, o neoliberalismo é essencialmente americano e judaico. É certo que, entre os seus líderes, mencionados no post anterior, três são europeus (Rand, Mises e Hayek), mas todos emigraram para os Estados Unidos, onde produziram as suas obras, e só um deles regressou à Europa (Hayek).
Aquilo que eu pretendo demonstrar nos meus próximos posts, ao longo das próximas semanas ou talvez meses, sem um programa definido para além deste tema geral, é o de que o neoliberalismo, incluindo a sua versão mais extrema - o libertarianismo - é um produto cultural do judaísmo. E que, se a generalidade das suas teses forem aplicadas a Portugal, que é um país de tradição profundamente católica, o resultado final não pode ser senão mais um desastre. A razão é que a corrente do liberalismo que é conforme à cultura portuguesa não é o neoliberalismo, que foi predominantemente liderado por economistas judeus, mas o liberalismo clássico - esse que foi predominantemente desenvolvido por historiadores católicos.
2 comentários:
Penso que me insiro nesta corrente de pensamento. De acordo com a sua classificação, estarei mais na linha do neo-liberalismo, apesar de ter tido uma formação católica. Diversos factores têm-me sensibilizado a seguir o caminho do atalho sugerido pela visão laica da interpretação do mundo em que hoje vivemos.
Vou seguir com muito interesse todos os seus posts relacionados com este tema.
Aproveito para transcrever: «De 1820 a 1975 o destino de Portugal foi condicionado por vários mitos - vintista, miguelista, liberal, republicano, salazarista, abrilista - e por um 'figurino institucional' inadequado ao nosso corpo» ("A Tragédia Portuguesa - Dos Mitos às Realidades 1820-1975", Jorge Babo, Ulisseia 1991).
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