02 julho 2007

Darwinismo social

Entre as teses do neoliberalismo, uma das mais devastadoras é a sua crítica ao Estado Providência. Segundo esta tese, não existe lugar para um papel assistencial do Estado - o Estado não tem lugar na assistência aos pobres, aos velhos, aos desempregados, aos toxicodependentes e aos deficientes, para mencionar apenas alguns dos grupos mais carenciados na sociedade. O Estado social não possui lugar no ideário neoliberal.

Os neoliberais reconhecem naturalmente a necessidade da filantropia e da solidariedade social. Mas esta deve ser privada e voluntária, a função da família, da comunidade local, das igrejas e das organizações filantrópicas ou mutualistas - mas nunca do Estado, largamente por razões de incentivos e de eficiência económica.

Na sociedade moderna e crescentemente globalizada, onde as pessoas se deslocam facilmente de cidade em cidade ou até de país em país à procura de emprego e de oportunidades de vida, onde as relações familiares são cada vez mais fracas, o sentimento religioso mais ténue e a teia de relações pessoais e comunitárias cada vez mais débil, a rede de instituições espontâneas de solidariedade social é uma solução cada vez menos eficaz para lidar com os problemas da carência. Por isso, a cumprir-se a solução neoliberal, seriam muitas as pessoas nesta sociedade a dormir debaixo das pontes ou a morrer na rua por falta de alimentos ou de cuidados de saúde.

A tese neoliberal, neste domínio, conduz a uma espécie de darwinismo social onde apenas sobrevivem os mais capazes, e é por isso inaceitável à luz da tradição cristã. Nesta tradição, todos os homens são filhos de Deus e iguais perante Ele. Ajudar ao próximo, dar-lhe a mão em situação de dificuldade considerável, é um imperativo ético do cristianismo. E se a solução ideal é a ajuda voluntária e espontânea, se esta falhar, então que se arranje outra, nem que seja compulsiva e, portanto, organizada pelo Estado - mesmo se esta solução, do ponto de vista económico, é a menos eficiente de todas as soluções.

A crítica ao Estado Providência e, no limite, a sua abolição, que é uma tese central do neoliberalismo, possui uma origem cultural que é genuinamente judaica. Não existe povo na história que, disperso pelo mundo em pequenas comunidades, frequentemente perseguidas e oprimidas, tivesse desenvolvido uma cultura mais forte de entreajuda pessoal, de solidariedade local e comunitária, do que o povo judaico - não teria sequer conseguido sobreviver sem ela. Na tradição judaica, a assistência aos carenciados foi sempre proporcionada espontaneamente dentro da própria comunidade judaica, sem necessidade de recurso à comunidade exterior, e muito menos ao Estado, que era o seu algoz.

Pelo contrário, os povos cristãos - e provavelmente os povos pertencentes a todas as outras civilizações - não tiveram idêntica experiência histórica, nunca viveram de forma prolongada e recorrente ameaçados ou perseguidos e, por isso, nunca desenvolveram uma cultura baseada em laços de solidariedade e de entreajuda espontânea que, de algum modo se compare, àquela que a nação judaica foi levada a desenvolver.

Por isso, se o Estado social fosse severamente restringido, ou abolido, como recomendaa a tese neoliberal, existe uma comunidade na seio da sociedade que nada sofreria com isso, uma comunidade que certamente iria sobreviver, e até prosperar, porque nunca precisou, ao longo da sua história, do papel assistencial do Estado - a comunidade judaica. Dificilmente algum judeu seria encontrado a dormir debaixo das pontes ou a morrer na rua por falta de alimentos ou de cuidados de saúde - seriam, sobretudo, cristãos e pessoas pertencentes a outras culturas que teriam esse fim.

6 comentários:

Anónimo disse...

Os judeus nunca me enganaram. Não admira que, em linguagem comum, "judeu" seja sinónimo de fdp.

4 hero

Anónimo disse...

Sou católico e , globalmente, sempre admirei os judeus.

ao longo da história foram preseguidos e torturados.

Admiro-lhes a capacidade de trabalho, de união, de sobrevivência.

Eu , católico romano, sempre tive e continuo a ter um fraco por essa raça, por esse povo, por essa cidade (Jerusalem) que achei das mais belas que vi.

audrey disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Wahsse Fühdehr disse...

Esta é a tese dos bilderbergers.
Vejam os seus simbolos e compreenderão o quanto eles estão ligados ao sionismo mundial.

Wahsse Fühdehr disse...

Ó anónimo das 2:29, já agora pensa que foram eles que lerparam aquele que veio falar do amor na Terra.

Anónimo disse...

Parabéns. As suas análises são muito boas e já fazia falta alguém sem medo e que pusesse os judeus no seu devido lugar.