Extraordinário espectáculo de portugalidade a que assisti, hoje ao fim da tarde, na Feira do Livro do Porto, enquanto vagarosamente aguardava que o Nobel José Saramago despachasse umas dezenas de autógrafos aos seus leitores, que esperavam numa fila onde me encontrava muito para o fim. Tinha à minha frente não mais do que trinta, quarenta pessoas. O que poderia ter sido um exercício breve (Saramago não descansou um minuto), transformou-se numa prolongada romaria: pais e criancinhas sorridentes a fotografarem-se com o autor, que se mantinha inalteravelmente sentado e de cara cerrada, tipos com seis e sete livros trazidos de casa para autografar, e até um sujeito que avançou com dois sacos de plástico donde tirou, sem exagero, pelo menos uns vinte livros. Organização a refrear os ânimos e a dar andamento à coisa, nada. Saramago, com uns bons oitenta e quatro anos em cima do pêlo, lá foi aguentando sozinho e assinando tudo o que os devotos leitores lhe punham debaixo do nariz. Quando a romaria acabou tinham passado mais de três horas sobre o começo. Ao chegar a minha vez, praticamente no fim, o homem dizia para si mesmo: «vocês já viram a que horas vamos sair daqui?»
Quando sai do pavilhão (ele ainda por lá ficou) dois belos pavões degladiavam-se com as caudas bem abertas e vistosas, enquanto grasnavam e esvoaçavam espaçadamente. Os transeuntes acharam-lhes muita graça e também os fotografaram abundantemente.
1 comentário:
...egoismo em alto grau e muita, mas mesmo muita falta de civismo.
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