Ainda hoje representam uma percentagem mínima da população mundial, apenas 0,25%, e nunca representaram muito mais. Viveram durante milénios dispersos pelo mundo, sem nunca perderem a sua identidade e a sua coesão nacional. Onde quer que se estabeleceram ao longo da história, acabaram, quase que invariavelmente, a ser ressentidos pelas populações locais e, por isso, foram frequentemente discriminados, confiscados, perseguidos e mortos.
A experiência histórica deste povo - única na história de humanidade - há-de permitir realçar características únicas da sua cultura, e traços únicos do seu carácter nacional. Gostaria de deduzir aqui apenas dois. O primeiro é o extraordinário sentimento comunitário dos judeus. Sem este sentimento extraordinário, há muito que a nação judaica teria sido extinta. O cimento que uniu a comunidade judaica, e lhe permitiu atravessar as maiores vicissitudes da história e ainda assim sobreviver, foi a sua religião e o seu Deus.
Na realidade, se nenhuma cultura, menos ainda uma civiilização, alguma vez existiu sem uma religião e um Deus, a experiência histórica da comunidade judaica está aí para demonstrar que a única Nação pequena, vivendo ao longo de milènios sob as circunstância mais adversas que a história pode proporcionar, e que, ainda assim, conseguiu sobreviver e prosperar, é uma Nação que tem uma religião e um Deus.
Naturalmente que uma comunidade que vive assim tanto tempo sob o assédio, a perseguição, a confiscação e a ameaça de morte há-de encontrar mecanimos culturais de defesa e de luta pela sobrevivência, e que passam a ficar entranhados no seu carácter nacional. Um deles é uma certa tendência para a dissimulação, a ambiguidade, a ambivalência e, no limite, a mentira. Kant foi ao ponto de considerar os judeus como o exemplo acabado dos mentirosos.
Não é difícil imaginar, nas condições de perseguição em que frequentemente viveram ao longo de milénios, aquilo que poderia suceder a um judeu se respondesse com perfeita verdade à pergunta: Você é judeu?. Não é difícil também imaginar o risco que corria se à pergunta Qual é a sua religião?, ele respondesse com inteira sinceridade.
A questão da verdade, por um lado, em contraposição com a mentira ou a mera dissimulação, por outro, não é aqui uma mera questão de carácter pessoal. É uma questão de sobrevivência pessoal e comunitária e, por isso, perfeitamente compreensível e até aceitável. Mas nem por isso deixa de fazer justiça à reputação que os judeus possuem, aos olhos das comunidades exteriores, de uma certa propensão para a dissimulação e a mentira.
Eu gostaria de mencionar a este respeito, e meramente como exemplo ilustrativo, um episódio passado com o Presidente Jorge Sampaio em 2003. Numa entrevista ao The Jerusalem Post, o jornalista perguntou ao Presidente português se se considerava judeu. O Presidente respondeu que a sua avó materna era uma judia originária da comunidade judaica de Marrocos . ("My grandmother belonged to a Jewish family that came from Morocco...")
Perante esta resposta, dir-se-ia que o Presidente não respondeu à questão. Na realidade, respondeu, embora de forma dissimulada. Na realidade, segundo a lei judaica, a condição judaica de uma pessoa define-se pela sua filiação materna: é judeu todo aquele que é filho de uma mulher judia, independentemente da nacionalidade do pai. Ora, sendo judia a avó materna do Presidente, a sua mãe também era judia e ele, obviamente, é judeu.
Mas então, porque é que O Presidente não respondeu com clareza à pergunta, dizendo simplesmente Sim, sou judeu? A resposta só pode, provavelmente, ser dada olhando a herança cultural do judaísmo a qual, sobre ele como sobre qualquer outra pessoa pertencente a esta tradição, haveria de deixar as suas marcas de milénios.
8 comentários:
É um momento único e compreendo a comoção anterior.
Julgo que para perceber os factos é necessário fazer esta distinção e admirá-la por inteiro.
Se eu fosse judeu também poderia ter dado a mesma resposta que Jorge Sampaio deu, caso isso, para mim não tivesse qualquer significado - se me tivesse tornado budista, por exemplo. Conheço, aliás, exemplos desse tipo.
Quanto a Kant (o professor elegante, como era conhecido), confesso que não me merece lá grande crédito, mesmo em termos filosóficos. A hipocrisia de que Nietzsche o acusava era capaz de não se reduzir aos aspectos metafísicos. Aquela "disposição para a personalidade", ai! aquela "disposição para a personalidade"...!
Por fim, os patriotas judeus, desde Massada até aos construtores do Estado de Israel, eram assim tão dissimulados? O estereótipo do judeu manhoso e calculista cheira-me a preconceito de ressabiados ou a bóia a que alguém se agarra para justificar o que lhe convém provar, por qualquer motivo mais ou mens consciente.
Já agora, para aclarar algumas ideias, aconselho-o a requisitar, na Biblioteca João Paulo II, da Universidade Católica de Lisboa, uma História do Povo Judeu (lamento a "branca" momentânea, que não me permite lembrar do nome do autor, é a de edição mais antiga das duas lá existentes).
Desejo-lhe uma boa e feliz reflexão.
O que devia obviamente preocupar as elitas da NAÇÃO PORTUGUESA é a quantidade de "forças exógenas e centrífugas" nas fundações da nossa sociedade a todos os níveis pelo que os aborígenes até nem se deviam admirar da situação em que estão...
Tal como os bretões estão a descobrir com os extremistas islâmicos certas "distracções" estratégicas, nomeadamente a existência de duplas servidões acabam por pagar-se caro.
Então se actuarem em rede e na sombra...
A vulnerabilidade da NAÇÃO nunca foi tão grande ao longo da sua história pois que uma larga maioria dos nossos estimados dirigentes são mesmo internacionalistas e laxistas no que concerne à permissividade de chegada de portugueses duvidosos às mais altas funções do estado e da economia e daí a facilidade com que se "desarmam" as instituições que deveriam ser a garantia da nosso sobrevivência.
Um dia seremos mais um Líbano...
Se este Lusitânea, como o Dantas, é português, eu, como o Almada Negreiros, quero ser espanhol!
O que é ser de "sangue português"? É tê-lo ibero, celta, romano, alano, suevo, ´visigodo, judeu, árabe, mouro ou negro, ou proveniente ainda dos comerciantes e industriais franceses, ingleses e alemães que ascenderam à nobreza lusa? Ser português é ser descendente do conde D. Henrique ou de Isabel de Aragão, a Santa Isabel, da linha directa de Maomé?Com lusitanos destes, espécie de Judas de um Potugal enquanto país com um papel verdadeiramente único na história do mundo, está esse país bem arranjado!
Ai, ai, se o Papa o ouve...
"A plan by the Pope to authorise the widespread return of the controversial Latin Mass, despite concerns that parts of it are anti-Semitic, has provoked a backlash among senior clergy in Britain and threatens to divide the Catholic Church worldwide. The 16th-century Tridentine Mass - which includes references to "perfidious" Jews -..."
PS O antigo presidente Sampaio converteu-se mesmo ao judaísmo?
É a voz do sangue!
"Joaquim Simões disse...
O que é ser de "sangue português"? É tê-lo ibero, celta, romano, alano, suevo, ´visigodo, judeu, árabe, mouro ou negro, ou proveniente ainda dos comerciantes e industriais franceses, ingleses e alemães que ascenderam à nobreza lusa?"
Contrariando as fantasias internacionalistas de alguns, o "sangue português" é predominantemente de origem europeia. A componente árabe é mínima e a subsariana é virtualmente nula.
World Haplogroups Map
Mínima ou virtualmente nula, está cá. E, dentro da europeia, qual é ou deverá ser vista como desejável ou maioritária? Mede-se ao litro ou ao grama?
Meu caro anónimo, ser português é ser produto único de um laboratório único que a humanidade criou. É possuir e expressar a faceta do que é simultaneamente dinâmico e adaptativo, onde o culto do Espírito Santo, como muito bem notou Agostinho da Silva, é sintoma de uma pulsão de unificação profunda.
Ser português é ser rafeiro, consciente de que essa história do pedigree (ariano, semita, zulu, iroquês ou outro qualquer) é uma metafísica delirante (própria dos fracos) e, nessa medida, perigosíssima porque destruidora da vitalidade.
Já agora, lembro-lhe a história do Marquês de Pombal que, quando D. José, não querendo ficar atrás da moda europeia, quis obrigar os judeus a usar o barrete com a estrela, pediu licença para ir buscar dois, um para o rei e outro para ele próprio, uma vez que ambos estavam também contaminados com o famoso "sangue judeu". E, à sua maneira, Pombal foi verdadeiramente português, tanto como D. Dinis ou D. João II, por exemplo, para não falar do Herman José.
Mas, se quiser falar mais aprofundamente sobre isso (no fim podemos ir comer um pastelinho de bacalhau) pode utilizar o mail que se encontra no cabeçalho do meu blog.
Já agora, no "centro do mundo, quer queiramos ou não", como o Sr. José Adelino Maltez uma vez disse no "Prós&Contras" da televisão. Dizem que estamos na periferia mas não estamos nada. Se olharmos o corrente mapa-mundi vemos a Ibéria no centro; agora querem também deslocá-la e pôr no centro do mapa o oceano Pacífico. Mas no Pacífico não houve nenhuma Atlântida.
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