22 maio 2007

as «bandeiras fracturantes» dos nossos liberais

Os liberais portugueses adoptaram as chamadas «bandeiras fracturantes» como pontos de partida de eventuais programas político-partidários que possam vir a protagonizar. Curiosamente, quase sempre que um liberal acena uma «bandeira fracturante», quando exige isto ou aquilo, seja a liberalização do aborto, a legalização dos casamentos/uniões de facto entre pessoas do mesmo sexo, a imposição de paradigmas de tolerância moral nos costumes, o reforço da laicização estatal, o tratamento igualitário destes com aqueles, está, ainda que não se aperceba, a dirigir-se ao Estado, a pedir ao Estado que intervenha num ou noutro sentido, a favor ou contra determinada posição.
Trata-se, claramente, de um esforço de voluntarismo político, que pressupõe a mudança da sociedade de forma vertical, de cima para baixo, mais precisamente, dos órgãos dirigentes do Estado para a sociedade. E, obviamente, do mais elementar dirigismo político, ainda que inspirado pelas melhores intenções.
Na verdade, antes de visarem o Estado e as suas instituições, o que os liberais devem cuidar é da criação de uma mentalidade liberal e de uma opinião pública que o seja genuinamente, isto é, que não queira saber do Estado para nada, ou que precise dele o menos possível.
De facto, para um liberal, as transformações políticas, nomeadamente as de pendor desestatizante não se dão de cima para baixo, sob o efeito benfazejo de um qualquer governante, mas de baixo para cima, por pressão da opinião pública e do eleitorado: quem tem poder nunca prescinde dele, a não ser que seja obrigado a fazê-lo. Quem se convencer do contrário só sofrerá desilusões. Como, de resto, ainda bem recentemente todos testemunhamos.

5 comentários:

Anónimo disse...

Excelente post.

"...ainda que não se aperceba, a dirigir-se ao Estado, a pedir ao Estado que intervenha num ou noutro sentido, a favor ou contra determinada posição."

Não se apercebem mesmo. A ideologia é a melhor formúla para a cegueira. O caso da laicização é paradigmático.

Anónimo disse...

fórmula

Anónimo disse...

É claro que certas exigências «fracturantes» têm que ser dirigidas ao Estado. A quem havemos nós de exigir que se permita o que o Estado proibiu?

CN disse...

Concordo em absoluto.

O liberalismo vai-se fazendo na opinião, alertando e denunciando e educando (expondo as falácias do intervencionismo, etc).

Aos poucos uma opinião anti-estatismo vai-se formando num largo espectro, uns mais receptivos em uns assuntos (liberdades civicas a anti-securitarismo) outros noutras (economia).

Nos EUA, Ron Paul corre o risco de se tornar num fenómeno, mas apenas porque já existe um elevado número da população receptiva à argumentação "Libertarian".

Esta "população" é o resultado das inúmeras e pequenas e grandes inciativas por toda a diversidade "libertarian", sejam com origem em seguidores de Ayn Rand ou o trabalho do Cato Institute, ou o s blogs libertarians, etc.

Aqui será a mesma coisa. Iniciativas e actuações diferenciadas mesmo que por vezes conflituantes, é o caminho a percorrer.


Comentando sobre a "ideologia", Russel Kirk dizia que a ideologia é uma espécie de religião invertida.

Por isso contesto que o liberalismo em si seja uma ideologia. Mas os direitos naturais não são ideologia.

Pelo contrário qualquer ideologia pressupondo adesão voluntária não coerciva a ela, tem de partir da permissa que as pessoas abdicam voluntáriamente desses "direito" para se submeter a uma ideologia em particular (por exemplo, concedendo que uma votação colectiva possa invadir os seus direitos naturais).

Ou seja, reivindicar o reconhecimento do direito natural não é uma ideologia, mesmo que estejamos dispostos a cedê-los por uma ideologia (sendo a dominante a do centralismo social-democrata, o paradigma da modernidade).

Anónimo disse...

A melhor forma de dar a conhecer o ideário Liberal é avançar com movimentos civis que expliquem ás pessoas os principios do Liberalismo.

Questões que as pessoas percebam e que tenham a ver com a sua vida real.

Por exemplo:

É bom para todos que haja desigualdades.
Porquê?

É natural e bom para todos que alguns enriqueçam.
Porquê?

É bom para todos que haja iguais oportunidades para todos.
Porquê?

É bom para todos que os mais necessitados sejam apoiados.
Porquê?

É bom para todos que o Estado seja pequeno e eficaz.
Porquê?

É bom para todos que o Mercado funcione livremente.
Porquê?

E muitas mais questões com "muitos porquês","como","quando","se"...

Debitar autores Franceses e Ingleses do sec XIX é que não nos leva a lado nenhum!