O preconceito existente contra António de Oliveira Salazar é um dos piores erros em que incorre a nossa democracia. Embora compreensível, já que ainda não passou suficiente tempo histórico para o olharmos imparcialmente, por um lado, e, por outro, porque ainda perdura a sua memória nas vítimas do regime que nos impôs ao longo de quarenta anos.
Uma sociedade democrática e adulta deveria ter, contudo, uma outra atitude. Até porque campeiam pelos livros de história e pelos monumentos das nossas praças, louvores e alvíssaras a tiranos do seu e de muito pior quilate. O Marquês de Pombal é disso o exemplo mais extremo, justificado pelos seus seguidores, nas suas atitudes contrárias aos mais elementares direitos humanos (já muito debatidos na doutrina do seu tempo) e na férrea tirania que implantou, por «razões de Estado» e pela mentalidade do tempo. Um salazarista não justificaria melhor Salazar.
O que é um facto é que Salazar abandonou o poder há já quase quarenta anos. Tempo suficiente para que o novo regime o não tenha por referência e consiga, quando leva já trinta e três anos de existência, bastar-se a si mesmo. A crítica permanente a Salazar revela, no fim de contas, fragilidade. O receio de que Salazar ganhasse um simples concurso televisivo, que a Câmara da sua terra lhe faça um museu, que os seus adeptos (?) se manifestem e lhe realcem as virtudes, enfim, que a popularidade de um morto possa crescer, não é própria de uma sociedade amadurecida.
Quanto ao mais, não há que ter medo: se Salazar disciplinou as contas públicas e o orçamento, não há que negá-lo; se Salazar desenvolveu a economia, ainda que seja mais do que discutível que a poderia ter levado bem mais longe, há que reconhecê-lo; se o homem evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial, só lho devemos agradecer. Depois, para que as contas não fiquem por fazer por inteiro, há que lembrar que foi também este homem quem proibiu a liberdade de expressão, fez presos políticos, permaneceu demasiado tempo no poder, condicionou o desenvolvimento industrial do país, mandou censurar jornais, impediu a aproximação de Portugal às Comunidades Europeias, deixou-se arrastar penosamente na cadeira do poder sem pensar na sua sucessão, etc.
No fim, cada qual que faça a sua contabilidade e obtenha o resultado que muito bem entender. A favor ou contra, a ele, morto há trinta e sete anos, não lhe fará muita diferença. E a nós, francamente, também não.
Uma sociedade democrática e adulta deveria ter, contudo, uma outra atitude. Até porque campeiam pelos livros de história e pelos monumentos das nossas praças, louvores e alvíssaras a tiranos do seu e de muito pior quilate. O Marquês de Pombal é disso o exemplo mais extremo, justificado pelos seus seguidores, nas suas atitudes contrárias aos mais elementares direitos humanos (já muito debatidos na doutrina do seu tempo) e na férrea tirania que implantou, por «razões de Estado» e pela mentalidade do tempo. Um salazarista não justificaria melhor Salazar.
O que é um facto é que Salazar abandonou o poder há já quase quarenta anos. Tempo suficiente para que o novo regime o não tenha por referência e consiga, quando leva já trinta e três anos de existência, bastar-se a si mesmo. A crítica permanente a Salazar revela, no fim de contas, fragilidade. O receio de que Salazar ganhasse um simples concurso televisivo, que a Câmara da sua terra lhe faça um museu, que os seus adeptos (?) se manifestem e lhe realcem as virtudes, enfim, que a popularidade de um morto possa crescer, não é própria de uma sociedade amadurecida.
Quanto ao mais, não há que ter medo: se Salazar disciplinou as contas públicas e o orçamento, não há que negá-lo; se Salazar desenvolveu a economia, ainda que seja mais do que discutível que a poderia ter levado bem mais longe, há que reconhecê-lo; se o homem evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial, só lho devemos agradecer. Depois, para que as contas não fiquem por fazer por inteiro, há que lembrar que foi também este homem quem proibiu a liberdade de expressão, fez presos políticos, permaneceu demasiado tempo no poder, condicionou o desenvolvimento industrial do país, mandou censurar jornais, impediu a aproximação de Portugal às Comunidades Europeias, deixou-se arrastar penosamente na cadeira do poder sem pensar na sua sucessão, etc.
No fim, cada qual que faça a sua contabilidade e obtenha o resultado que muito bem entender. A favor ou contra, a ele, morto há trinta e sete anos, não lhe fará muita diferença. E a nós, francamente, também não.
3 comentários:
Mas estimado Rui;
o credo (religião de estado) civil tem que criar os seus satãs!
J.
«O preconceito existente contra António de Oliveira Salazar é um dos piores erros em que incorre a nossa democracia. (...) porque ainda perdura a sua memória nas vítimas do regime que nos impôs ao longo de quarenta anos.»
Pois...
Então... se calhar, o problema não é propriamente dos juízos feitos se basearem em preconceitos...
«Quanto ao mais, não há que ter medo: se Salazar disciplinou as contas públicas e o orçamento, não há que negá-lo; se Salazar desenvolveu a economia, ainda que seja mais do que discutível que a poderia ter levado bem mais longe, há que reconhecê-lo; se o homem evitou que entrássemos na 2ª Guerra Mundial, só lho devemos agradecer. Depois, para que as contas não fiquem por fazer por inteiro, há que lembrar que foi também este homem quem proibiu a liberdade de expressão, fez presos políticos, permaneceu demasiado tempo no poder, condicionou o desenvolvimento industrial do país, mandou censurar jornais, impediu a aproximação de Portugal às Comunidades Europeias, deixou-se arrastar penosamente na cadeira do poder sem pensar na sua sucessão, etc.»
Nesta parte, concordo consigo. Embora tenhamos de ter presente que os feitos económicos e financeiros têm de ser lidos à luz da sua contemporaneidade (há também que reconhecê-lo). Disciplinar as contas públicas e desenvolver a economia - parece-me - enfrenta hoje desafios que na altura não se punham.
«No fim, cada qual que faça a sua contabilidade e obtenha o resultado que muito bem entender (...)não lhe fará muita diferença. E a nós, francamente, também não.»
E aqui já discordamos outra vez. Um povo sem memória está, necessariamente, condenado a incorrer nos mesmos erros.
Claro que com esta afirmação fica claro que a minha "contabilidade" (e eu nem existia antes de '74) pende para a repulsa de qualquer ideologia ou prática que bula com as minhas liberdades individuais e direitos políticos.
Tiro conforto do facto de não acreditar que a questão se colocar em termos que tenhamos de optar entre um ditador eficiente ou um democrata incompetente.
Caramba, não há democratas competentes?
Para quando um post parecido com o título álvaro? Eu sei qual o seu problema: é que aquilo que tem de mal a dizer de álvaro são coisas que ele nunca chegou a fazer e, por conseguinte, só poderá dizer que as faria (o que é fraco). António matou, Álvaro não (e podia tê-lo feito em massa).
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