Oliveira Salazar queria Portugal a viver pacatamente. Durante as décadas em que o governou, a opinião pública praticamente não existia fora das coordenadas que o regime autorizava. Para esse fim, a censura precavia os danos e limitava os riscos. As pessoas deviam «viver habitualmente», o mesmo é dizer, sem ondas. O Estado devia imitar, no seu zelo e virtude, uma humilde e honrada dona de casa, tal como o Doutor Salazar as imaginava. Mais do que uma ditadura política, o Estado Novo foi uma comédia de costumes que anestesiou o País durante quarenta anos. «A Bem da Nação».
No pós-25 de Abril, o que se notou foi a necessidade de extravasar a adrenalina. A moda era berrar contra o «fascismo», como poderia ser contra qualquer outra coisa. Daí que, alguns dias antes do fim do regime, os mesmos populares que depois da Revolução invectivavam Marcelo e lhe chamavam «fascista» o tenham glorificado e aplaudido de pé no estádio do Restelo. O que era preciso, como dizia o outro, era «animar a malta» e o 25 de Abril serviu para isso na perfeição.
E a malta ainda se animou durante mais uns tempos, com Cunhal e Soares (um tipo francamente animado), até que Aníbal Cavaco Silva repôs a «normalidade». No seguimento da nossa tradição, viver com «normalidade», era, segundo Cavaco, viver fora da política, ou melhor, distanciado da «coisa pública». Para isso existiam os políticos, espécie menos do que humana sobre a qual o Doutor Cavaco, que ainda hoje insiste em dizer que não é um político, manifestava as maiores reservas. Viver com «normalidade» no país de Cavaco, no nosso país, era não ler jornais. Nem que para isso fosse preciso barricar-se no Pulo do Lobo.
Essa necessidade de refúgio do ex-primeiro-ministro não foi meramente circunstancial, antes assinalou o fim de um tempo e o começo de um outro. Não por acaso, só no Pulo do Lobo se podia «viver habitualmente» nos dias do fim do primeiro cavaquismo. Fora do Pulo do Lobo o mundo regredira à idade das trevas, onde a política, digo, a inveja e a maledicência, campeava, transparecendo nos tais jornais que Cavaco nunca lia.
De então para, cá o país abandonou definitivamente a sua «normalidade». Vive agora de escândalo em escândalo político e social, e se não lho servem atempadamente em doses generosas, sente-se tristonho. Os portugueses trocaram o seu «way of life» secular pelo consumo furioso de doses industriais de adrenalina, que expelem em torno de assuntos que, na maior parte dos casos, só indirectamente lhes dizem respeito.
No pós-25 de Abril, o que se notou foi a necessidade de extravasar a adrenalina. A moda era berrar contra o «fascismo», como poderia ser contra qualquer outra coisa. Daí que, alguns dias antes do fim do regime, os mesmos populares que depois da Revolução invectivavam Marcelo e lhe chamavam «fascista» o tenham glorificado e aplaudido de pé no estádio do Restelo. O que era preciso, como dizia o outro, era «animar a malta» e o 25 de Abril serviu para isso na perfeição.
E a malta ainda se animou durante mais uns tempos, com Cunhal e Soares (um tipo francamente animado), até que Aníbal Cavaco Silva repôs a «normalidade». No seguimento da nossa tradição, viver com «normalidade», era, segundo Cavaco, viver fora da política, ou melhor, distanciado da «coisa pública». Para isso existiam os políticos, espécie menos do que humana sobre a qual o Doutor Cavaco, que ainda hoje insiste em dizer que não é um político, manifestava as maiores reservas. Viver com «normalidade» no país de Cavaco, no nosso país, era não ler jornais. Nem que para isso fosse preciso barricar-se no Pulo do Lobo.
Essa necessidade de refúgio do ex-primeiro-ministro não foi meramente circunstancial, antes assinalou o fim de um tempo e o começo de um outro. Não por acaso, só no Pulo do Lobo se podia «viver habitualmente» nos dias do fim do primeiro cavaquismo. Fora do Pulo do Lobo o mundo regredira à idade das trevas, onde a política, digo, a inveja e a maledicência, campeava, transparecendo nos tais jornais que Cavaco nunca lia.
De então para, cá o país abandonou definitivamente a sua «normalidade». Vive agora de escândalo em escândalo político e social, e se não lho servem atempadamente em doses generosas, sente-se tristonho. Os portugueses trocaram o seu «way of life» secular pelo consumo furioso de doses industriais de adrenalina, que expelem em torno de assuntos que, na maior parte dos casos, só indirectamente lhes dizem respeito.
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