21 maio 2025

CUATRECASAS - Uma Máfia Legal (54)

 (Continuação daqui)

Elas, em alemão: "Patinho, dá-me o teu popó"


54. Tachos


Quando regressou da conferência sobre prostituição em Mainz, na Alemanha, o juiz Vaz Patto escreveu um artigo no Observador sobre as ideias que tinha trazido de lá. Algumas já as tinha levado daqui, outras eram verdadeiramente originais.

Uma das primeiras dava o título ao artigo ("Proibicionismo") em que o juiz defendia de maneira acérrima a proibição da prostituição para ver se se punha fim, de uma vez por todas, a essa perversão liberal que é a de cada mulher poder dispôr livremente do seu próprio corpo. Entre as segundas, houve uma que lhe mereceu atenção especial, que era o facto de, na Alemanha, as prostitutas fazerem parte dos trabalhos da conferência, elas próprias sendo oradoras. 

Que diferença este país protestante e liberal fazia do muito católico e conservador Portugal onde as conferências sobre prostituição, como aquela comemorativa do 50º aniversário da Associação "O Ninho", só admitiam padres, políticos, familiares de políticos, psicólogos e até juízes. Quanto a prostitutas, nem pensar numa coisa dessas, era o que faltava, onde é que já se viu.

Era um mistério sobre o qual se especulava muito em Portugal. Até ao dia em que uma prostituta decidiu vir a público falar abertamente sobre os problemas da sua profissão.  Aconteceu a 14 de Junho de 2022 numa entrevista que Ana Loureiro deu ao Manuel Luís Goucha na TVI. Quando chegou o momento de se referir às ONG's, como a Associação "O Ninho", que viviam à custa do Estado e alegadamente se dedicavam a tirar mulheres da prostituição, ela foi explosiva:

-"Temos aqui um monopólio de associações que não são associações nenhumas, só querem é tachos..." (cf. aqui, min: 2:00).

E foi por ali fora de maneira devastadora. A Ana Loureiro era uma insider, ela sabia do que estava a falar. Por um momento, imaginei o que seria ela a fazer a mesma declaração na conferência organizada pela Associação "O Ninho". Teria sido o pandemónio e o primeiro a fugir pela porta mais próxima teria sido o juiz Vaz Patto, que era o anfitrião da conferência na sua qualidade de presidente da Assembleia Geral da Associação.  

A minha imaginação então pegou asas e em breve eu estava  a imaginar o juiz Vaz Patto a dar uma entrevista à comunicação social, a explicar aos portugueses as diferenças entre uma conferência sobre prostituição na Alemanha e outra em Portugal.

Saiu assim:


Entrevista ao juiz Pedro Vaz Patto

Jornalista - Juiz Patto, fale-me sobre aquela sua experiência em Mainz, na Alemanha, quando foi participar numa conferência sobre prostituição (cf. aqui). 

Juiz - Foi uma experiência fantástica...

Jornalista - Qual é a principal diferença das conferências sobre prostituição em Portugal?

Juiz - Lá também vão prostitutas ... aqui é só políticos, padres e até juízes (cf. aqui), uma seca...

Jornalista - Quantos dias esteve em Mainz?

Juiz - Uma semana inteira.

Jornalista - Hotel?

Juiz - Cinco estrelas...

Jornalista - E vocês convivem com elas nos intervalos das sessões?

Juiz - Nos intervalos e fora deles, almoçamos juntos, jantamos juntos, depois vamos juntos para o karaoke...

Jornalista - E depois... e depois do karaoke?

Juiz - O quê, fodê!?... Não, isso não... ficamos em andares separados no hotel, elas no oitavo, nós no nono ... embora uma noite eu tenha visto um padre em pijama e palmilhas de meias a descer pelas escadas de serviço...

Jornalista - E quem é que o senhor juiz Patto imitou no karaoke?

Juiz - Quim Barreiros, A Garagem da Vizinha... eu gosto de músicas alegres, de fodê... foi um sucesso... ponho o carro, tiro o carro... no fim eram elas todas a dizer-me, em alemão: "Patinho, dá-me o teu popó"...

Jornalista - E as viagens foram boas?

Juiz - Avião, executiva, limousine à chegada, tudo do bom e do melhor...

Jornalista - E o per diem?

Juiz - Ah, isso é melhor não dizer porque os portugueses são muito invejosos...

Jornalista - E quem pagou tudo isso... o Tribunal da Relação do Porto, imagino...

Juiz - Vá-se fodê... carago... você está a gozar...

Jornalista - Então?

Juiz - Saiu do orçamento da Associação O Ninho, que se dedica a tirar mulheres da prostituição... a comitiva portuguesa tinha sete representantes, eu, três deputados, dois assistentes sociais e um padre, embora eu fizesse as duas funções, de juiz e de padre.

Jornalista - E quem dá o dinheiro?

Juiz - Os políticos... a gente faz-lhes uns favorzinhos nos tribunais ... ou, como diz o meu colega Marcolino, "uns faborzinhos", quando vem lá de Bragança a trocar os vês pelos bês...

Jornalista - Então, aquele caso do Arroja...

Juiz - Sim... lamentavelmente ... é a dura realidade... é tudo uma questão de fodê...

Jornalista- Uma questão de fodê!?

Juiz - Sim, uma questão de fodê... eu tive de fodê o Arroja para salvaguardar o tacho... 


(Continua acolá)


Sem comentários: