(Continuação daqui)
54. Tachos
Quando regressou da conferência sobre prostituição em Mainz, na Alemanha, o juiz Vaz Patto escreveu um artigo no Observador sobre as ideias que tinha trazido de lá. Algumas já as tinha levado daqui, outras eram verdadeiramente originais.
Uma das primeiras dava o título ao artigo ("Proibicionismo") em que o juiz defendia de maneira acérrima a proibição da prostituição para ver se se punha fim, de uma vez por todas, a essa perversão liberal que é a de cada mulher poder dispôr livremente do seu próprio corpo. Entre as segundas, houve uma que lhe mereceu atenção especial, que era o facto de, na Alemanha, as prostitutas fazerem parte dos trabalhos da conferência, elas próprias sendo oradoras.
Que diferença este país protestante e liberal fazia do muito católico e conservador Portugal onde as conferências sobre prostituição, como aquela comemorativa do 50º aniversário da Associação "O Ninho", só admitiam padres, políticos, familiares de políticos, psicólogos e até juízes. Quanto a prostitutas, nem pensar numa coisa dessas, era o que faltava, onde é que já se viu.
Era um mistério sobre o qual se especulava muito em Portugal. Até ao dia em que uma prostituta decidiu vir a público falar abertamente sobre os problemas da sua profissão. Aconteceu a 14 de Junho de 2022 numa entrevista que Ana Loureiro deu ao Manuel Luís Goucha na TVI. Quando chegou o momento de se referir às ONG's, como a Associação "O Ninho", que viviam à custa do Estado e alegadamente se dedicavam a tirar mulheres da prostituição, ela foi explosiva:
-"Temos aqui um monopólio de associações que não são associações nenhumas, só querem é tachos..." (cf. aqui, min: 2:00).
E foi por ali fora de maneira devastadora. A Ana Loureiro era uma insider, ela sabia do que estava a falar. Por um momento, imaginei o que seria ela a fazer a mesma declaração na conferência organizada pela Associação "O Ninho". Teria sido o pandemónio e o primeiro a fugir pela porta mais próxima teria sido o juiz Vaz Patto, que era o anfitrião da conferência na sua qualidade de presidente da Assembleia Geral da Associação.
A minha imaginação então pegou asas e em breve eu estava a imaginar o juiz Vaz Patto a dar uma entrevista à comunicação social, a explicar aos portugueses as diferenças entre uma conferência sobre prostituição na Alemanha e outra em Portugal.
Saiu assim:
Entrevista ao juiz Pedro Vaz Patto
Jornalista - Juiz Patto, fale-me sobre aquela sua experiência em Mainz, na Alemanha, quando foi participar numa conferência sobre prostituição (cf. aqui).
Juiz - Foi uma experiência fantástica...
Jornalista - Qual é a principal diferença das conferências sobre prostituição em Portugal?
Juiz - Lá também vão prostitutas ... aqui é só políticos, padres e até juízes (cf. aqui), uma seca...
Jornalista - Quantos dias esteve em Mainz?
Juiz - Uma semana inteira.
Jornalista - Hotel?
Juiz - Cinco estrelas...
Jornalista - E vocês convivem com elas nos intervalos das sessões?
Juiz - Nos intervalos e fora deles, almoçamos juntos, jantamos juntos, depois vamos juntos para o karaoke...
Jornalista - E depois... e depois do karaoke?
Juiz - O quê, fodê!?... Não, isso não... ficamos em andares separados no hotel, elas no oitavo, nós no nono ... embora uma noite eu tenha visto um padre em pijama e palmilhas de meias a descer pelas escadas de serviço...
Jornalista - E quem é que o senhor juiz Patto imitou no karaoke?
Juiz - Quim Barreiros, A Garagem da Vizinha... eu gosto de músicas alegres, de fodê... foi um sucesso... ponho o carro, tiro o carro... no fim eram elas todas a dizer-me, em alemão: "Patinho, dá-me o teu popó"...
Jornalista - E as viagens foram boas?
Juiz - Avião, executiva, limousine à chegada, tudo do bom e do melhor...
Jornalista - E o per diem?
Juiz - Ah, isso é melhor não dizer porque os portugueses são muito invejosos...
Jornalista - E quem pagou tudo isso... o Tribunal da Relação do Porto, imagino...
Juiz - Vá-se fodê... carago... você está a gozar...
Jornalista - Então?
Juiz - Saiu do orçamento da Associação O Ninho, que se dedica a tirar mulheres da prostituição... a comitiva portuguesa tinha sete representantes, eu, três deputados, dois assistentes sociais e um padre, embora eu fizesse as duas funções, de juiz e de padre.
Jornalista - E quem dá o dinheiro?
Juiz - Os políticos... a gente faz-lhes uns favorzinhos nos tribunais ... ou, como diz o meu colega Marcolino, "uns faborzinhos", quando vem lá de Bragança a trocar os vês pelos bês...
Jornalista - Então, aquele caso do Arroja...
Juiz - Sim... lamentavelmente ... é a dura realidade... é tudo uma questão de fodê...
Jornalista- Uma questão de fodê!?
Juiz - Sim, uma questão de fodê... eu tive de fodê o Arroja para salvaguardar o tacho...
(Continua acolá)
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