25 abril 2025

POPULISMO (15)



Como a AI vê o POPULISMO de ABRIL

O 25 de Abril e a Deriva Populista: Uma Leitura Crítica

O 25 de Abril de 1974, em Portugal, iniciou-se como um golpe de Estado militar conduzido pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), mas rapidamente se transformou numa revolução popular, com profundas repercussões sociais, políticas e económicas. A fase subsequente, conhecida como Processo Revolucionário em Curso (PREC), apresenta traços que permitem discutir a hipótese de uma deriva populista, ainda que o populismo não se tenha tornado hegemónico no regime que emergiu.

Segundo Cas Mudde, o populismo é uma ideologia de baixa densidade que opõe “o povo puro” a “uma elite corrupta” e sustenta que a política deve expressar a vontade geral do povo (Mudde, 2004). No PREC, esse antagonismo foi evidente no discurso contra as elites do antigo regime, os grandes proprietários e o capital estrangeiro. A narrativa revolucionária — sobretudo a promovida por sectores mais radicais do MFA — exaltava a figura do “povo” como sujeito soberano, legitimando nacionalizações em massa, reforma agrária e intervenção directa no sistema económico, sem mecanismos robustos de escrutínio.

Essa mobilização simbólica e material do “povo” face às instituições tradicionais aproxima-se do populismo de esquerda, tal como definido por Laclau (2005), em que reivindicações sociais fragmentadas se articulam em torno de um significante vazio — neste caso, a “Revolução”. A personalização carismática de figuras como Otelo Saraiva de Carvalho, aliada à desconfiança em relação aos partidos e à democracia representativa, reforça essa leitura.

Contudo, ao contrário de experiências latino-americanas de populismo duradouro, Portugal institucionalizou rapidamente o regime democrático com a Constituição de 1976. A crise económica que levou à intervenção do FMI em 1977-78 pode ser parcialmente atribuída a um voluntarismo económico típico de momentos populistas: expansão do sector público, aumentos salariais e desequilíbrios orçamentais sem a devida sustentabilidade.

Em suma, o 25 de Abril abriu espaço a momentos de populismo político e económico, especialmente entre 1974 e 1976. No entanto, a consolidação democrática e a adesão progressiva a normas europeias limitaram a sua duração e impacto estrutural. A análise deste período mostra como o populismo pode emergir de revoluções, mesmo em contextos europeus, mas também como instituições democráticas o podem conter.


Referências:

  • Mudde, C. (2004). The Populist Zeitgeist. Government and Opposition.

  • Laclau, E. (2005). A Razão Populista. Fundo de Cultura Económica.


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