(Continuação daqui)
2. Pior que os ciganos
A Cuatrecasas e o seu director do escritório do Porto, o eurodeputado Paulo Rangel, acusavam-me de dois crimes - ofensa a pessoa colectiva e difamação agravada, respectivamente - e pediam-me, cada um, 50 mil euros de indemnização, para um total de 100 mil euros.
No primeiro dia do julgamento (6 de fevereiro de 2018), momentos antes de a sessão se iniciar, o advogado Adriano Encarnação que representava os ofendidos - e que eu, no blogue, viria a tratar carinhosamente por Papá Encarnação porque ele andava sempre acompanhado pelo filho -, fez-me uma proposta, através da minha advogada.
Nos termos da proposta, ele estaria disposto a deixar cair a acusação e a prescindir do julgamento, se eu pagasse cinco mil euros a uma instituição de caridade e fizesse um pedido de desculpa à Cuatrecasas e ao seu director, lavrado em acta do tribunal.
Horrorizado, recusei prontamente a proposta.
O horror devia-se à minha condição de economista. Nesta condição, eu analisei muitos mercados ao longo da minha vida e não me recordava de algum mercado onde os preços variassem tanto em tão pouco tempo. O mercado dos crimes devia ter alguma característica especial que eu desconhecia para que dois crimes que antes valiam 100 mil euros passassem a valer subitamente apenas cinco mil.
Procurei racionalizar a situação recorrendo à figura económica do desconto. Na altura, os ciganos andavam muito na comunicação social e raramente por boas razões. Existe uma tendência em todas as sociedades para discriminar as minorias e os ciganos não são excepção. Por exemplo, atribui-se frequentemente aos ciganos a tendência para pedir 100 por aquilo que na realidade só vale metade.
Ao longo da minha vida, comprei inúmeras coisas aos ciganos em muitas feiras espalhadas por esse país fora, e nunca me senti enganado, nunca eles me pediram por alguma coisa um preço disparatado face àquele por que estavam dispostos a vendê-la. Na prática eles pediam-me dez ou vinte por cento acima para depois me fazerem um desconto por esse mesmo montante.
Mas agora era diferente, era muito pior que os ciganos. O mandatário da Cuatrecasas exigia-me apenas cinco mil euros por aquilo por que antes me pedira 100 mil. Era um desconto de 95%!
Nunca me tinha acontecido na vida. Não existia cigano no mundo capaz de bater este desconto.
(Continua acolá)

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