16 março 2025

FALHAS HUMANAS

Os seres humanos são entidades imperfeitas, não são puros, nem sábios, nem bons e é por isso que as utopias redundam em catástrofes. O “Bom Selvagem” do Rousseau a viver num Paraíso terrestre não passa de uma narrativa e fracota.

O conservadorismo, como filosofia política, assume a imperfeição como princípio e, portanto, promove sistemas de governação limitada, com freios e contrapesos – checks & balances – porque (desculpem-me o lugar-comum) o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente.

 

O catolicismo partilha desta visão, os Homo Sapiens não são anjos nem demónios, antes um pouco de cada e a Igreja está lá para enaltecer as qualidades e penitenciar as diabruras. A Igreja Católica raramente expulsa alguém por mau comportamento, porque compreende esta dicotomia existencial da humanidade; admoesta, mas perdoa e dá uma segunda oportunidade.

 

No meu ponto de vista, creio que bastante enviesado, o conservadorismo vai buscar os seus fundamentos ao catolicismo e adopta uma perspectiva muito similar, todos são capazes do melhor e do pior.

 

O romance filosófico Candide, do Voltaire, expõe um conjunto de falhas humanas, que determinam tragédias sucessivas e que levam o personagem principal a rejeitar o optimismo e a propor que nos refugiemos a “cultivar o jardim”.

 

Dessas falhas, Voltaire destaca a ingenuidade e a credulidade, a hipocrisia, o fanatismo e a intolerância, a ganância, a violência, a exploração humana e a traição.

 

Os acontecimentos dos últimos anos demonstram como estas falhas operam em sociedade e corroboram a sua força destrutiva. A invenção de uma crise climática, a hiperbolização de uma gripe e uma engenhosa narrativa belicista, só são possíveis com populações néscias, que se deixam explorar de forma gananciosa e violenta.


Tal como no Candide, as consequências são trágicas, tanto em termos económicos como em perda de vidas.


Não penso, porém, que nos devamos resignar a cultivar o jardim e aceitar o império das narrativas fraudulentas. O melhor será manter um pé no jardim e outro na realidade social, lançando sementes à terra e ideias ao mundo.

 

As sementes darão fruto e as ideias inspirarão mudanças, sendo certo, contudo, que as falhas humanas continuarão a ser um desafio. São parte da natureza do Sapiens.

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