25 fevereiro 2025

O Pêndulo (6)

 (Continuação daqui)



6. A Economia


As principais instituições e processos económicos de uma Sociedade Católica (SC) podem agora ser comparados com as suas contrapartes numa Sociedade Socialista (SS) e numa Sociedade Liberal (SL).

Empresas e Negócios. A instituição económica mais importante de uma SS  é o Estado ou a empresa pública que, em geral, é uma grande empresa; a sua produção é dirigida a um mercado nacional e impessoal. Na SL prevalece a empresa privada, desde a pequena empresa até à grande multinacional; a sua produção dirige-se  a um mercado impessoal, às vezes à escala global. A empresa prevalecente na  SC é a empresa familiar, tipicamente uma pequena empresa; a sua produção dirige-se, em geral, a pequenos mercados locais ou regionais, geralmente pessoalizados.

Organização Industrial.  Monopólios e oligopólios do Estado constituem a forma dominante de organização industrial na SS; o sector privado e concorrencial da economia é pequeno e aparece em indústrias que não são politicamente importantes. Na SL monopólios naturais e oligopólios também existem, mas são geridos por grandes empresas privadas, às vezes multinacionais; o sector concorrencial da economia é vasto e forte. A SC é o reino da concorrência entre pequenas empresas familiares; as grandes empresas são raras porque o risco da perda de controlo por parte da família normalmente impede o seu crescimento familiares.

Emprego. Na SS o Estado é o maior empregador, directamente ou através de empresas públicas, e o trabalhador típico é o funcionário público; os trabalhadores são avaliados pela sua submissão  às ordens que vêm da hierarquia; as promoções são baseadas na lealdade política e na antiguidade. Na SL os maiores empregadores são as grandes empresas privadas e multinacionais; as pessoas são avaliadas pela sua produtividade e as promoções tendem a ser baseadas no mérito. Na SC os maiores empregadores são as empresas familiares; os empregados são avaliados com base na diligência e na lealdade, com as promoções geralmente acompanhando o crescimento dos negócios. 

Empreendedorismo. Na SS o empreendedorismo é desencorajado; os sectores mais importantes da actividade económica são dominados pelo Estado ou por empresas públicas que impedem a entrada de  empresas no sector; novas empresas são permitidas apenas no sector privado que tem um carácter residual e pouca importância política, mas mesmo aí sujeitas a licenciamento e regulamentação detalhada. Na SL o empreendedorismo é encorajado; este é o tipo de Sociedade onde podem ser encontrados os homens de negócio mais ricos e de maior sucesso; barreiras à entrada podem ser encontradas em certos sectores da economia dominados por grandes empresas. Na SC predominam as pequenas empresas familiares em regime de concorrência; as grandes empresas são raras e também a sua dominância dos mercados; não existem barreiras naturais significativas para começar um negócio e o capital necessário é geralmente pequeno.

Criatividade. Na SS a economia está orientada para servir as necessidades de um mercado nacional e impessoal através de burocracias do Estado que não possuem qualquer incentivo para serem criativas. Na SL a criatividade é estimulada e a natureza impessoal do mercado torna este tipo de Sociedade particularmente apta para satisfazer necessidades de massa. A SC aproxima o modelo de economia face-a-face em que o produtor frequentemente conhece pessoalmente o comprador; o conhecimento directo das necessidades do consumidor, e o incentivo do lucro, conferem à SC um potencial considerável para a inovação em bens e serviços fortemente personalizados. 

Flexibilidade. Na SS os choques económicos são resolvidos pelos vagares das burocracias do Estado  que são lentas a reagir e não possuem qualquer incentivo a ajustar-se às novas condições da economia. Na SL existe o  poderoso incentivo imposto pela disciplina-das-perdas para as empresas se ajustarem às novas circunstâncias, mas o carácter impessoal dos seus mercados torna mais difícil aos empresários e gestores identificar a fonte e a direcção das mudanças. Na SC os produtores e os compradores tendem a viver face-a-face em pequenos mercados locais ou regionais possuindo a informação, e o incentivo do lucro, para se adaptarem rapidamente às novas circunstâncias; recursos mal alocados tendem a ser mínimos e de pouca duração neste tipo de Sociedade.

Política Económica. A SS usa a política económica para mover a economia em direcção aos objectivos definidos pelo Estado; a política económica é conduzida pelo Estado quer a nível macro quer microeconómico. A SL rejeita a ideia de política económica sob o argumento de que a intervenção do Estado na economia é sempre mais danosa do que benéfica. A SC favorece a utilização da política económica como uma solução de última instância para proteger a comunidade, devendo ser usada prioritariamente ao nível local e só subsidiariamente aos níveis regional e nacional. 

Corrupção. Na SS políticos e gestores de grandes empresas públicas tomam decisões usando o dinheiro de uma massa anónima de contribuintes que não possuem nem os meios nem a informação suficientes para as controlar; fica aberta a porta para os burocratas e gestores públicos usarem o dinheiro dos contribuintes em seu próprio benefício; a corrupção é um traço característico da SS. Na SL é o empresário que toma decisões com o seu próprio dinheiro embora o risco de corrupção também exista nas grandes multinacionais em que gestores profissionais também tomam decisões com o dinheiro dos outros - a massa anónima dos accionistas da empresa. Na SC a corrupção é minimizada por virtude da natureza da empresa familiar; as decisões na empresa são tomadas pelo seu proprietário e ele está suficientemente próximo dos seus colaboradores (geralmente, familiares) para evitar que estes tomem decisões que  prejudicam a empresa em benefício próprio.   

Crises económicas e financeiras. A SL está sujeita a crises económicas e financeiras; em geral, é suficiente que um número significativo de grandes empresas abram falência para que uma crise seja desencadeada, a qual pode ter efeitos devastadores sobre toda a economia. Na SS, as crises económicas e financeiras também existem, e ocorrem geralmente na decorrência da insolvência do Estado;  os seus efeitos podem ser ainda mais devastadores porque o Estado é o maior empregador e a maior instituição económica desta Sociedade.  Na SC, pelo contrário, não abundam as grandes instituições económicas, o Estado é subsidiário e as grandes empresas são em pequeno número; nesta Sociedade predominam as empresas familiares, que são geralmente pequenas, cuja falência origina um risco pequeno ou moderado sobre toda a economia; a vasta teia de empresas familiares e de relações interpessoais nesta Sociedade protege-a contra os riscos de grandes crises económicas e financeiras.

(Continua acolá)

Sem comentários: