(Continuação daqui)
50. Investigador científico
O Presidente Trump, e o seu vice-presidente, J. D. Vance, consideram que a liberdade de expressão está ameaçada na Europa (cf. aqui).
Pode ser que sim. Mas não em Portugal.
Baseio-me nesta notícia publicada ontem pela Agência Ecclesia:
"A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) informou hoje que, conforme deliberação do seu Conselho Permanente, designou como novos representantes na Comissão da Liberdade Religiosa (CLR) o jurista Pedro Vaz Patto e a historiadora Rita Mendonça Leite" (cf. aqui)
Um juiz do Tribunal da Relação do Porto, conhecido publicamente por condenar injustamente um cidadão no exercício dos seus direitos cívicos (cf. aqui), levando à condenação do Estado português no TEDH por violação do direito à liberdade de expressão desse cidadão (numa decisão unânime de sete juízes), acaba de ser nomeado pela Conferência Episcopal Portuguesa para a Comissão da Liberdade Religiosa (cf. aqui).
Vai ter o estatuto de investigador científico: cf. aqui, artº 8º, nº 3.
(Ahahahah ... Que engraçado!... investigador científico!...)
Um anti-liberal assumido a fazer parte de uma Comissão para a Liberdade. Esta Comissão mais não é do que a instituição através da qual o Estado português controla a entrada de novos grupos religiosos em Portugal, restringindo a concorrência entre religiões e a própria liberdade religiosa, com grande gáudio para a Igreja Católica cuja quota de mercado tem vindo a diminuir aceleradamente no país.
A referência ao visado como um mero "jurista", e não por aquilo que ele é, é uma manifestação do princípio da transparência que a Igreja Católica prega para os outros mas não para ela, e visa esconder uma grandiosa situação de conflito de interesses, outro princípio - o de que "não se pode servir ao mesmo tempo a dois senhores" -, que a Igreja prega para os outros mas não para ela.
Num Estado laico, temos um juiz de um alto tribunal do país a representar interesses confessionais, e logo os da Igreja Católica. E não apenas na Comissão da Liberdade Religiosa. Na própria direcção da Igreja Católica portuguesa, porque ele é membro da Conferência Episcopal.
Agora, já não são apenas os princípios da transparência e da prevenção dos conflitos de interesses que estão em jogo. È o princípio democrático da imparcialidade da justiça. Quando estiverem em confronto um lobby católico e outros interesses, lá no Tribunal da Relação do Porto, o juiz Vaz Patto decide a favor de quem? Decide a favor do lobby católico como já fez no passado (cf. aqui).
A Igreja Católica em Portugal está tão corrupta como o Estado português que, no último ano, caiu nove lugares no índice de corrupção da Transparência Internacional. Ela anda de braço dado com o Estado, confundem-se na pessoa do juiz Vaz Patto. A Igreja já não tem vergonha dos seus próprios pecados (ou talvez ainda tenha alguma, porque os procura esconder).
Eu anseio pelo dia em que os ventos trumpianos cheguem a Portugal. A pergunta vai ser: "Quanta liberdade religiosa produziu essa Comissão em Portugal, e a que preço para os contribuintes?".
E na ausência de uma resposta satisfatória, a decisão será: "Fecha!"
(Continua acolá)
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