(Continuação daqui)
Fonte: cf. aqui29. Um padreca
Dentre todos os novos departamentos (ministérios) da administração Trump, o mais inovador e aquele que melhor exprime o espírito americano é o DOGE (Department of Government Efficiency - Ministério da Eficiência do Estado). Ainda por cima, tendo à frente um empresário de grande sucesso, Elon Musk.
O DOGE vai pôr o Estado americano em ordem, ao serviço dos americanos, e eliminando todos os serviços e despesas redundantes que não tenham uma função relevante. A primeira grande vítima é a USAID, a agência americana de ajuda internacional, mas começam a vir a público outras vítimas menos esperadas como o New York Times e a Associated Press (cf. aqui).
O regime americano é presidencialista, sendo o Chefe de Estado também o chefe do poder executivo. O Brasil imitou o sistema americano quando passou de monarquia a república, mas nem por isso as coisas passaram a funcionar melhor, permanecendo até hoje um grande produtor de pobreza que exporta para vários países do mundo, incluindo Portugal. É que o problema dos países católicos não é só de instituições, é sobretudo de cultura.
Em Portugal, o Presidente é o Chefe do Estado, mas não o chefe do poder executivo. Porém, é ele que nomeia o poder executivo e o demite. Não sendo o chefe do executivo ele dispõe de mais distanciamento e até de mais tempo para zelar pelo desempenho do Estado que chefia - um tempo, é certo, que pode ser alternativamente usado para andar por aí a dar beijinhos às velhinhas.
Ainda esta semana, a propósito da Operação Tutti Frutti, o Presidente Marcelo veio lamentar-se da lentidão da justiça em Portugal e defender uma reforma da justiça (cf. aqui). É algo que ele já faz há mais de trinta trinta anos como jurista e como político e mais intensamente desde há dez anos como Presidente da República. Mas o que fez ele, como Chefe de Estado e ainda por cima jurista, para melhorar a justiça em Portugal, que os portugueses consideram o pior serviço prestado pelo Estado?
Nada, porque o Presidente Marcelo nunca viu a sua função como sendo a de um Chefe de Estado a quem compete, em primeiro lugar, zelar pela qualidade da instituição que chefia, mas como uma figura decorativa a quem compete, entre outras coisas, confortar velhinhas.
Hoje foi anunciado um novo candidato a Chefe de Estado que pertence à escola política do Presidente Marcelo. E o que vem ele fazer, zelar para que os serviços do Estado sejam fornecidos aos portugueses com eficiência, eficácia e economia, promovendo a melhoria dos serviços de justiça, saúde ou educação? Não, nem isso alguma vez lhe passou pela cabeça.
Ele vem pregar moral (ética, que é a moral em versão laica: cf. aqui) como se nós já tivéssemos poucos padres, ainda por cima em Portugal com uma das populações mais envelhecidas do mundo, que é quem menos precisa disso. Dentro do seu moralismo, ele vem pregar valores como a responsabilidade, a unidade, a dignidade, a esperança, a liberdade, a estabilidade e outras coisas assim, próprias de um padre da Igreja Católica, e onde nem sequer falta a menção aos pobrezinhos (cf. aqui).
Se ele alguma vez for eleito, na Presidência da República teremos, não um verdadeiro Chefe do Estado, mas um padreca, que é a figura daquele que, não sendo padre, se comporta como se fosse.
É caso para dizer, já ninguém aguenta isto.
(Continua acolá)

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