09 fevereiro 2025

O Muro da Vergonha (33)

 (Continuação daqui)



33. A liberdade individual


Como é possível que um padre católico (cf. aqui), ainda por cima fundador de uma nova corrente teológica dentro da Igreja - o Opus Dei - promova a santificação do trabalho, que é o cerne dessa mesma teologia, exactamente nos mesmos termos em que o faria um qualquer pastor protestante?

A resposta já a dei neste blogue há vários anos. Mas antes de cometer esse pecado que é o de me citar a mim próprio, convém dizer que S. Josemaría Escrivá promove a santificação de um outro valor protestante que o catolicismo tradicional nunca promoveu. Trata-se da liberdade individual.

Eis algumas das suas afirmações sobre o tema:

"Gosto de falar da aventura da liberdade, porque é assim que se desenvolve a vossa vida e a minha. (Amigos de Deus, 35)

O risco da nossa liberdade

Nessa tarefa que vai realizando no mundo, Deus quis que fôssemos seus cooperadores, quis correr o risco da nossa liberdade. Toca-me o fundo da alma a figura de Jesus recém-nascido em Belém: uma criança indefesa, inerme, incapaz de oferecer resistência. Deus entrega-se às mãos dos homens, aproxima-se e desce até nós.
Jesus Cristo, que tinha a natureza de Deus, não reivindicou o seu ser igual a Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de escravo. Deus condescende com a nossa liberdade, com a nossa imperfeição, com as nossas misérias. Consente que os tesouros divinos se contenham em vasos de barro, que os demos a conhecer misturando as nossas deficiências humanas com a sua força divina. (
É Cristo que passa, 113)

Porque não te fias nada de ti e tudo de Deus

Nunca te havias sentido mais absolutamente livre do que agora, que a tua liberdade está tecida de amor e de desprendimento, de segurança e de insegurança: porque nada fias de ti mesmo e tudo de Deus. (Sulco,787)

Compreendo muito bem aquelas palavras do Bispo de Hipona, que soam como um maravilhoso cântico à liberdadeDeus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti, porque todos nós, tu e eu, temos sempre a possibilidade - a triste desventura - de levantar-nos contra Deus, de rejeitá-lo - talvez com a nossa conduta - ou de exclamar: Não queremos que ele reine sobre nós. (Amigos de Deus, 23)

Uma liberdade contínua

Para perseverar no seguimento dos passos de Jesus, é precisa uma liberdade contínua, um querer contínuo, um exercício contínuo da própria liberdade (Forja, 819)

Só se defender a liberdade individual dos outros, com a correspondente responsabilidade pessoal, poderá defender igualmente a sua própria, com honradez humana e cristã. Repito e repetirei sem cessar que o Senhor nos concedeu gratuitamente um grande dom sobrenatural, que é a graça divina; e outra maravilhosa dádiva humana, a liberdade pessoal, que - para não se corromper, convertendo-se em libertinagem - exige de nós integridade, empenho eficaz em desenvolver a conduta dentro da lei divina, pois onde se encontra o Espírito de Deus, lá se encontra a liberdade (É Cristo que passa, 184")

Fonte: cf. aqui

(Continua acolá)

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