09 fevereiro 2025

O Muro da Vergonha (34)

 (Continuação daqui)

Golfers play near the border in October 2016. The top-rated course Black Jack's Crossing, at the luxury Lajitas Golf Resort, was opened in 2012 and built on the banks of the Rio Grande in Texas' remote and rugged Big Bend region.

Fonte: cf. aqui


34. O calvinismo catolicizado


A santificação do trabalho (e do estudo), o amor pela liberdade individual, a vida como uma aventura (revelando uma apetência à iniciativa e ao risco), um certo anti-clericalismo, a celebração de Cristo nos assuntos correntes da vida diária (que tanto impressionou Alexis Tocqueville na sua visita à América)  - eis os traços essenciais do calvinismo e também do Opus Dei.

Na sua ambição universal,  a Igreja Católica (uma palavra que do, grego katholikos, significa precisamente universal), tem de ter tudo aquilo que existe no mundo. E se, no mundo, existe protestantismo luterano e protestantismo calvinista, a Igreja também tem de os ter representados no seu seio. Devidamente catolicizados, claro.

O protestantismo luterano está representado nos jesuítas, uma cultura socialista, estatizante, onde uma auto-proclamada elite - os jesuítas, eles próprios - cuida dos mais pobres (os quais, para que esse cuidado possa ser continuado, dificilmente vão conseguir sair da pobreza). São eles que formam as filas junto ao Muro da Vergonha pelo lado mexicano.

O Opus Dei, pelo contrário, é o calvinismo catolicizado (cf. aqui) que se distingue do verdadeiro calvinismo praticamente por uma só característica - a obediência ao Papa -, a qual lhe confere um sentido de unidade e comunidade que não existe no calvinismo original.

O Opus Dei promove uma cultura de liberalismo económico ou capitalismo, assente na liberdade e na iniciativa individual e numa fortíssima ética do trabalho. Aos pobres, o Opus Dei, como o calvinismo,  dá a seguinte mensagem: "Utiliza as capacidades que Deus te deu e trabalha forte que vais conseguir sair da pobreza e também agradar a Deus". A riqueza ou, pelo menos, a libertação da pobreza, surge como um impulso divino. Não há pobreza que resista a um impulso assim.

Por causa desta mensagem, do lado americano do Muro da Vergonha existem 360 milhões de seres humanos que, eles próprios ou os seus antepassados, na sua maioria, já foram pobres, mas agora já não são. Alguns são até grandes milionários.

(Continua acolá)

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