(Continuação daqui)
74. Um ciclista sem bicicleta
Na parte da Economia, eu subscreveria tudo aquilo que o Almirante escreveu no seu artigo, e milhares de empresários o fariam também, só não estou é agora certo que o Almirante - socialista como é -, seja genuíno acerca daquilo que escreveu.
(Eu estou convencido que o Almirante está a ser aconselhado por um grupo de politiqueiros que vão reduzir a sua figura, enquanto candidato, ao nível de um Marques Mendes, com grande prejuízo para ele e grande vantagem para este)
Um socialista a promover o mercado livre? O Almirante quer agradar a todos, como qualquer vulgar politiqueiro, e quem quer agradar a todos, acaba a não agradar a ninguém
Diz o Almirante (ênfases meus):
"A prosperidade só se materializará numa economia de mercado livre. O Estado não deve cair na tentação de conduzir, mas intervir apenas na medida do necessário para garantir uma sociedade mais próspera , coesa e menos desigual ao alcance de todos"
O problema está na "medida do necessário". Qual é o critério?
Não se pode ser socialista e ao mesmo tempo defender um estado light, como faz o Almirante:
"É também imperioso libertar a economia, a iniciativa privada e os cidadãos de um sistema burocrático complexo e asfixiante, que atrasa e dificulta o desenvolvimento. A proliferação de pequenos poderes favorece um clima propício ao compadrio e à corrupção".
Como, quais as medidas a adoptar?
Um socialista a defender um Estado pequeno e pouco interventivo faz-me lembrar a maneira curiosa como Fernando Santos, o treinador de futebol, que é um homem muito católico, define uma figura muito típica do catolicismo tradicional, a qual permite a um homem ser católico e, ao mesmo tempo, não ser - a figura do "católico não praticante".
Para Fernando Santos, o "católico não praticante" é como um ciclista sem bicicleta. Assim é também um socialista sem um Estado fortemente interventivo, na realidade, sem um Estado elevado à categoria da mais importante instituição da sociedade.
(Continua acolá)
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