(Continuação daqui)
XXXIV. O maior erro
O maior erro que o Almirante Gouveia e Melo, na sua corrida para a Presidência da República, pode cometer é aceitar participar em debates televisivos com os outros candidatos ou, pior ainda, em mesas redondas.
Estará a jogar no campo dos adversários onde ele só tem desvantagens, e nenhuma vantagem, e por cada debate em que participar perderá milhares de votos.
É aí, aliás, que os seus adversários o querem apanhar, e alguns até já se chegaram à frente, na minha opinião só pela expectativa de "debater" com o Almirante.
Na cultura protestante, que é a cultura dos partidos, chega-se à verdade pelo debate livre das ideias. Mas na cultura católica, que é a cultura do povo português, chega-se à verdade através da autoridade. O debate público das ideias não conta para nada porque ninguém se entende.
O povo português, que vê no Almirante uma figura de autoridade, presume que o Almirante já saiba aquilo que tem de fazer como Presidente da República, não tendo necessidade do debate público para o afirmar. Na palestra que recentemente proferiu na Gulbenkian, por exemplo, está contido todo um programa político (cf. aqui).
O Almirante não foi treinado para falar na horizontal, de igual para igual, como acontece num debate. O Almirante foi treinado para falar na vertical, para receber ordens ou para as dar. O Almirante não é nem um político partidário nem um académico, vai sair-se muito mal nos debates, os seus adversários anseiam por isso, e explorarão os resultados até à exaustão
Eu não consigo imaginar o Almirante a debater com a candidata do ADN (cf. aqui) ou com o candidato do STOP (cf. aqui) - na realidade, com qualquer outro candidato - porque num país de tradição católica, como é Portugal, que não tem qualquer tradição de debate livre das ideias (antes pelo contrário, por isso existiu no passado a Inquisição e existe hoje o Ministério Público) não sai nada de luminoso de um debate. Só zaragata e aviltamento pessoal.
O Almirante vai ser apoucado sem qualquer benefício aparente e a sua autoridade sai diminuída aos olhos de todos os portugueses: "Então, o Almirante sujeita-se àquilo?". Mas alguma vez se viu um Papa, na televisão, a discutir teologia com o líder de uma qualquer seita protestante?
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