(Continuação daqui)
XXIII. O Teorema do Menino-Mimado
Foi logo num dos seus primeiros discursos como primeiro-ministro, enquanto procurava ainda encontrar um caminho para reconstruir o Estado e a sociedade portuguesa em novas bases, que Salazar, invocando uma característica típica do menino-mimado, escreveu que o socialismo não era bom para Portugal porque "os portugueses, comodistas como são" (sic), iriam acabar todos a viver à custa do Estado.
Não se enganou por muito. Aquilo que ele não podia antever na altura é que cerca de cinquenta anos depois, essa sua intuição receberia uma fundamentação científica no famoso Teorema do Menino -Mimado do economista Gary Becker (The Rotten Kid Theorem: cf. aqui).
O Teorema do Menino-Mimado vem explicar por que é que os meninos-mimados são geralmente socialistas e até parecem, aos olhos dos outros, boas pessoas, verdadeiros altruístas. E vem também esclarecer como é que num período de crise da família como o actual - em que existem cada vez menos famílias, as famílias são menos permanentes e, portanto, cada vez é menor a sua capacidade para sustentar meninos-mimados - eles se mudam, de armas e bagagens, da família para o Estado.
Na sua formulação mais simples - que ilustrei noutro lugar (cf. aqui) -, o Teorema do Menino-Mimado afirma que, embora o menino-mimado seja um egoísta radical, existem certas situações em que ele está pronto a sacrificar o seu egoísmo, e até a dar a aparência de que é um altruísta. Essas situações ocorrem se o seu sacrifício pessoal fôr mais do que compensado pelos benefícios que ele espera receber do seu benfeitor (família, padrinho, Estado) em resultado do seu sacrifício.
Suponhamos que o Estado anuncia um grande programa social destinado apoiar a quem não trabalha que custa 800 milhões de euros ao ano e, ao mesmo tempo, anuncia um aumento de impostos para o financiar.
O menino-mimado, depois de fazer as contas, chega à conclusão que vai pagar mais 100 euros por ano de IRS para financiar este programa, mas que, ao mesmo tempo, o programa lhe vai proporcional dois mil euros em novos subsídios para continuar a viver à pala do Estado.
Claro que ele vai ser favorável a este programa. Ele até virá para os jornais apoiar fortemente o programa destinado a ajudar os pobrezinhos, coitadinhos, que não têm dinheiro para comer, e até menciona orgulhosa e altruisticamente que será o primeiro a pagar os impostos necessários para o financiar. Aquilo que ele esconde é que, ele próprio, será um dos principais beneficiários do programa. No fim, o povo acaba a pagar a grande fatia do programa e uma pequena minoria, que inclui o menino-mimado, é que goza dele.
É assim que o Estado socialista vai engordando, ora para ajudar os pobrezinhos, ora para vacinar os animais, ora para estudar cientificamente as cobras nas Ilhas Berlengas, ora para alfabetizar as velhinhas em Trás-os-Montes. Sob uma vasta gama de pretextos, o povo é chamado a pagar cada vez mais impostos enquanto o menino-mimado português que, até aos 35 anos de idade vivia à conta dos pais (cf. aqui), a partir daí passa a viver comodamente à conta dos contribuintes.
Não deve ser surpresa para o Almirante Gouveia e Melo que os seus principais adversários - eu diria mesmo, inimigos - na campanha para as Presidenciais se encontram à esquerda, com destaque para a chamada esquerda-caviar porque é aí que estão, em primeiro lugar, os meninos-mimados, aqueles que nunca fizeram nada de útil na vida, excepto política.
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