31 dezembro 2024

Almirante Gouveia e Melo (XLI)

 (Continuação daqui)




XLI. Marinheiros e piratas


Na entrevista que concedeu ao Podcast Bitalk o Almirante Gouveia e Melo exprime de forma quase perfeita aquilo que chamei a concepção católica da liberdade (cf. aqui), por oposição à concepção protestante, quando diz "É mais uma resistência à imposição de uma vontade do que uma vontade própria" (cf. aqui, min. 1.08:00)

A liberdade protestante, que enforma o regime de democracia-liberal, é uma liberdade activa ("uma vontade própria") , um bem que se realiza de maneira individual, que não envolve os outros, e que se traduz na capacidade de cada um escolher o seu próprio destino (ou caminho para Deus).

Pelo contrário, a liberdade católica é uma liberdade passiva, é a ausência de um mal (a imposição de uma vontade exterior), a qual se realiza em comunidade, quando os outros não impõem a cada um a sua própria vontade.

Por outras palavras, enquanto para a cultura protestante a liberdade é a faculdade de cada um escolher um caminho, para a cultura católica a liberdade é o privilégio de que ninguém se atravesse no seu caminho.

É muito significativo que o Almirante Gouveia e Melo seja um marinheiro porque foi sob a liderança de marinheiros que Portugal conheceu o período de ouro da sua história, abrindo novos caminhos ao mundo.

Depois, as suas elites, não compreendendo o segredo íntimo que as tinha levado tão alto, perderam-no e hoje Portugal vive de mão estendida aos países de onde saíam os piratas que outrora se atravessavam no caminho dos marinheiros portugueses por esses mares fora.

Foi uma queda e uma inversão radical. De uma nação de marinheiros intrépidos que abria caminhos ao mundo, Portugal tornou-se largamente uma nação de piratas que se atravessam no caminho uns dos outros. É um dos maiores vícios da sociedade portuguesa actual e a maior manifestação do seu carácter iliberal - a tendência dos portugueses para se meterem no caminho uns dos outros (frequentemente utilizando as instituições do Estado para esse efeito).

O mais óbvio exemplo que tenho para oferecer deste vício aconteceu-me a mim próprio na história que mais me tem ocupado neste blogue. Durante anos, o Estado não fez uma ala pediátrica num grande hospital do país, sendo as crianças internadas em contentores metálicos. A certa altura, pediram-me para fazer a obra por via mecenática. Ajudado por uma pequena equipa de duas pessoas, em breve a obra estava em curso. Foi quando os piratas me saíram ao caminho para me impedir de continuar a obra.  

O Almirante também vai tê-los no caminho e alguns já estão à espreita. Recentemente, uma cidadã e um cidadão portugueses anunciaram, cada um de sua vez, a intenção de se candidatarem à Presidência da República (cf. aqui e aqui).  Logo pressenti que nenhum deles tinha qualquer projecto para o país e apenas pretendiam atravessar-se no caminho do Almirante Gouveia e Melo, e isso mesmo deixei escrito neste blogue (cf. aqui). Não foram necessários muitos dias até que um deles tornasse explícita essa intenção. Aquilo que ele quer é meramente impedir que o Almirante seja eleito (cf. aqui).  

(Continua acolá)

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