29 novembro 2024

SOMBRA NEGRA

 



A Sombra Negra

O conformismo leva à violência? Penso que sim e esta tese pode justificar a violência que se manifesta actualmente nas sociedades Ocidentais.

 

Para explicar, em termos psicológicos, este fenómeno basta recorrer aos arquétipos Junguianos da Persona e da Sombra. A Persona é a máscara social que todos ostentamos para nos adaptarmos às normas e expectativas sociais, enquanto escondemos e protegemos a verdadeira natureza — o Eu. A Sombra representa o mundo dos desejos e instintos primitivos, assim como aspectos que fomos reprimindo ao longo da vida e que permanecem inconscientes.

 

Numa sociedade católica poderíamos equiparar a Persona ao Anjo e a Sombra ao Demónio. Embora esta correspondência não seja exacta, permite intuir de imediato o sentido último dos arquétipos do Jung.

 

O Anjinho poderia equivaler, por exemplo, àquele político que promete acabar com a pobreza, declarar guerra a todas as pragas e pestilências e ainda lutar contra o aquecimento global. É um tipo que adopta uma máscara de virtude e sacrifício; está na política para "lutar pelo Bem Comum".

 

O Demónio, pelo contrário, é a figura do Maquiavel, com ambição desmedida de poder, bestial e agressivo. A sua base de apoio são os deserdados e humilhados pelos Anjinhos, preocupados com pôr pão na mesa e tratar da família, alheados das guerras e conflitos que grassam pelo mundo.

 

Se pensar em figuras que compaginem a Persona e a Sombra, ocorrem-me o Guterres e o Trump — o Anjo-papudo e o Mefistófeles. Claro que o Guterres não vai na treta do aquecimento global, mas adopta as vestes que lhe dão poder, autoridade e glória, o seu Eu (Ego) trava uma luta entre a Persona que adoptou e a Sombra onde reprimiu motivações mais prosaicas. O Trump, por seu turno, também sabe que grande parte (ou a maior parte) da sua agenda não é implementável em quatro anos, mas assume-a na luta pelo poder.

 

As acusações trocadas entre Democratas e Republicanos, com mais frequência, são reveladoras: os Democratas apelidam os Republicanos de deploráveis e estes apelidam os primeiros de vigaristas (crooks). Para os Democratas os Republicanos não querem saber do Bem Comum e para os Republicanos os Democratas são hipócritas e usam o Bem Comum para enriquecer.

A disputa entre estas forças — a Persona e a Sombra — é trabalho do Eu, que tudo resolve com compromissos: “nem tanto ao mar, nem tanto à Terra”.

 

Na época histórica que atravessamos, pela influência dos OCS e das redes sociais, a Persona é moldada pela propaganda, transformada num modelo social aceitável e pressionada a reprimir para a Sombra quaisquer discordâncias, mesmo que racionais e sensatas. Quando alguém contraria as narrativas que formaram a Persona, a Sombra contra-ataca com a violência da besta. Os negacionistas são a escória social e devem ser eliminados.

 

Eis como, na minha perspectiva e com a alavanca do Jung, o conformismo massificado leva à violência e, em última instância, à guerra — território por excelência do Demónio, digo, da Sombra Negra. 

Sem comentários: