Há ideias tão completamente desligadas da realidade que ou são oximorónicas ou fruto de uma directa com a Maria Joana e o Smirnoff. No ranking dessas ideias, o Óscar pertence de direito a quem primeiro pensou em formar um Partido Libertário em Portugal, um dos países mais colectivistas do mundo.
Penso que sei do que estou a falar porque sou presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Pró-Partido Libertário, uma agremiação de chalados que se reúne uma vez por ano em Pombal, para petiscar e gritar que “IMPOSTO É ROUBO”.
Como chalado-mor presido, sempre que posso, às reuniões, deslocando-me a essa cidade macambúzia, degustando o prato do dia e escutando depois as deambulações pós-prandiais de alguns panfletários que consideram Rothbard como a segunda encarnação do Salvador – imposto é roubo; reverberamos em uníssono e com acenos de cabeça.
O nosso presidente da direção, líder do executivo, bota faladura e apresenta o seu programa de legislatura (tosse, tosse) para o futuro Partido libertário – 50% de corte nas receitas do Estado e 50% de corte nas despesas.
Numa das reuniões, um correligionário chegou a considerar este programa como genial, argumentando que todas as pessoas gostam de descontos.
O problema é que, numa congregação de libertários cada um tem a sua opinião e programa e portanto nunca se chega (felizmente) a um consenso. Daí a quase impossibilidade de formar um partido libertário. A propósito, conta-se que o próprio Rothbard terá tido um ataque de riso quando o convidaram para presidir a um partido libertário.
Claro que a ideia dos 50% não tem nada de libertária porque se imposto é roubo, não deixa de o ser a meio-pau.
O mal-estar foi-se instalando nos últimos meses, surgiram acusações e insultos, cortes de relações, censura nas redes sociais e a acusação mais vil que se pode fazer a um libertário:
— Não passas de um socialista!
Vil, mas pouco original porque já o Mises acusou o Hayek e o Friedman de serem socialistas encapotados, numa célebre reunião da Sociedade Mont Pelerin.
Chegados a este ponto, pergunto-me:
— Não viram logo de início os escolhos de formar um partido libertário?
Parece-me interessante ter uma associação libertária, uma espécie de “Think Tank”, para analisar ideias e doutrinas. Na questão do partido é que a porca torce o rabo porque quem não acredita no Estado é que vai apresentar um programa de governo?
Seria como se uma associação de ateus se propusesse formar uma Igreja.
— Mas nós não acreditamos em Deus – diria o advogado do Diabo.
— Podem entrar agnósticos, sempre têm 50% de fé em Deus.
Sobra apenas uma função coerente para um eventual partido libertário: “A DEFESA INTRANSIGENTE DOS DIREITOS NATURAIS” e a denúncia de todas as respectivas violações.
Algo mais são devaneios juvenis ou desvarios sob a influência da Maria Joana e do Smirnoff, esses malvados.
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