20 setembro 2024

BLACK COFFEE

 

Depois da WWII, a Nestlé tentou desenvolver o mercado do café no Japão, mas sem qualquer resultado positivo; os Japoneses nem um cafezinho tomavam.

 

Confrontada com a derrota, a Nestlé contratou o Dr. Clotaire Rapaille, uma luminária da psicanálise francesa, para analisar a aversão nipónica à cafeína. O seu diagnóstico acabou por entrar para a história do marketing e operar uma verdadeira revolução nesta disciplina.

 

Os Japoneses não tinham qualquer relação emocional com o sabor do café, que desconheciam completamente e por isso não eram impressionáveis pela publicidade. Feito o diagnóstico, o Dr. Rapaille passou à terapêutica e recomendou à Nestlé que começasse por vender rebuçados com sabor a café e aguardasse 20 anos.

 

Decorrido esse prazo, o consumo do café começou a crescer exponencialmente até atingir os $22 B Dólares/ ano, que representa hoje.

 

Recordo que li sobre este episódio num livro do Dr. Clotaire Rapaille, que adquiri no aeroporto JFK e com que ocupei o tempo da viagem de Nova Iorque para Lisboa; dei o tempo por bem empregue.



Penso que se passa algo de muito parecido em relação ao liberalismo e ao libertarianismo em Portugal.

 

Quando o Prof. Pedro Arroja regressou a Portugal, no início dos anos 90 e começou a divulgar ideias liberais, a reação geral foi de surpresa e espanto. ‹‹Como é que se pode minimizar o papel do Estado, especialmente na saúde, educação e segurança social?›› ou ‹‹Que seria dos pobrezinhos?››.

 

Por essa altura, autores como Hayek, Ayn Rand, Rothbard e Mises, eram totalmente desconhecidos e os lentes da universidade ainda veneravam o “Das Kapital” como o suprassumo do pensamento económico.

 

Os escribas do tempo, como Eduardo Prado Coelho, rejubilavam com os artigos do Pedro Arroja no DN, que ridicularizavam com “ataques ad hominem”.

Conheci o Pedro Arroja por essa altura e foi-me fácil entender o discurso liberal por dois motivos. Em primeiro lugar devido à minha estadia nos EUA, onde me tinha especializado em Cirurgia Geral. Em segundo lugar porque percebi de imediato que o SNS era (e continua a ser) uma organização soviética: os meios de produção são públicos, os operários são funcionários do Estado e a gestão é centralizada e por comando e controle; os maus resultados e a falta de qualidade são uma pecha do socialismo.


Quando chamava a atenção para esta realidade, em conferências sobre política de saúde, ouvia-se um sururu na sala: uhuhuhuhuhuhu...

 

Tal como os Japoneses não consumiam café porque não tinham ligação emocional com o sabor do café. Os portugueses não abraçam a liberdade porque não têm ligação emocional com a experiência de ser uma pessoa independente, livre e autónoma.

 

Estou convencido de que é necessário trabalhar a “liberdade” junto das camadas mais jovens, antes do País estar pronto para abandonar o socialismo e eleger governos minarquistas. 


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