(Continuação daqui)
331. Já não marca pontos no céu
O conhecido conservador britânico Samuel Johnson(1709-1784) costumava dizer que "O primeiro whig [liberal] foi o diabo" referindo-se, na altura, ao principal adversário do seu Partido Conservador, que era o Partido Whig, que primeiro promoveu o liberalismo em Inglaterra. Whigismo era sinónimo de liberalismo (cf. aqui).
Este era o tempo em que a doutrina da justificação diferia consideravelmente entre católicos e protestantes. Os católicos afirmavam que a salvação se conseguia pela graça de Deus e também pelas (boas) obras, ao passo que os protestantes afirmavam que o caminho para a vida eterna dependia exclusivamente da graça de Deus, o célebre princípio protestante "Sola Gratia"
A partir de 1999, a Igreja Católica adoptou a teologia protestante no que respeita à doutrina da justificação, e aceitou a exclusividade da graça de Deus como o caminho para a salvação. As boas obras (v.g., dar esmola aos pobres, tirar os males do mundo) deixaram de contar para a salvação (cf. aqui).
A partir dessa data, portanto, mesmo num país muito católico como Portugal, condenar um liberal, como fez o juiz Pedro Vaz Patto, já não marca pontos no céu. Deus já não se deixa comprar, mesmo quando um juiz católico condena o diabo:
A questão é esta: Por que é que a corrupção, que é um factor de risco para a democracia, é mais prevalecente nos países católicos do que nos protestantes?
A causa próxima da revolta protestante de Lutero foi a questão das indulgências. A Igreja precisava de dinheiro para a reconstrução da Basílica de S. Pedro em Roma e decidiu vender a "salvação pessoal". Quem pagasse o suficiente ficava com o cadastro limpo junto de Deus e conquistava a vida eterna.
Foi um dos momentos mais baixos da Igreja Católica e que ela viria a pagar muito caro. Ainda hoje, a estupefacção não pode ser maior: os padres, chefiados pelo Papa, na qualidade de corruptores activos, a corromper o próprio Deus, na situação de corruptor passivo.
Nunca visto.
Na altura, a Igreja Católica considerava que a salvação se obtinha pela graça de Deus, isto é, pela Sua misericórdia, mas também pelas obras, sendo estas, entre outras, as obras de caridade realizadas ou pagas pelo pecador. Por outras palavras, podia-se comprar a salvação, e as indulgências, na realidade, não representavam outra coisa.
Os protestantes viriam a opor-se fortemente a esta doutrina, afirmando que a salvação só se obtém pela graça de Deus (o princípio protestante Sola Gratia), não pelas obras. Por outras palavras, o céu não está à venda.
Somente em 1999, a Igreja Católica aderiu à doutrina protestante e ao princípio Sola Gratia. Durante séculos, o povo católico foi doutrinado no sentido de que, se fizesse uma contribuição para a Igreja ou para uma qualquer obra de caridade, os padres actuariam junto de Deus para que este lhe limpasse os pecados e lhe concedesse a vida eterna.
Ora, uma cultura onde é possível até corromper Deus, é uma cultura que muito mais facilmente corrompe os homens. Está aqui a origem das elevadas percepções de corrupção nas democracias católicas, que só contribuem para o seu descrédito.
Fonte: cf. aqui
(Continua acolá)
Sem comentários:
Enviar um comentário