18 agosto 2024

A Decisão do TEDH (293)

 (Continuação daqui)

Primeiro-ministro em exercício abandonando o seu gabinete de trabalho na última quarta-feira às 9:15 da manhã


293. Swinging

Não sabendo quem tinha escrito o Protocolo (Memorandum of Understanding, ou simplesmente MoU na linguagem do TEDH: cf. aqui), pensei aquilo que qualquer pessoa com experiência profissional de gestão pensaria: "O director tem obrigação de saber aquilo que lá se faz", e disparei sobre ele.

Que erro tremendo.

Ele não sabia de nada do que se passava no escritório de advogados de que ele próprio era director. A tal ponto que se comentava na altura, à boca pequena, que na ausência dele, que era permanente, se fazia de tudo no escritório da Cuatrecasas do Porto. Até sexo em grupo.

Cito do que escrevi na altura a propósito do autor do Protocolo: (cf. aqui):

  2) Não é o Professor Paulo Rangel porque, segundo o depoimento que ele prestou na segunda sessão do julgamento realizada a 23 de Fevereiro, embora fosse o director da Cuatrecasas-Porto,  não sabia nada do que lá se passava. Os seus subordinados bem podiam fazer o pino durante as horas de trabalho, ou praticar sexo em grupo, que ele não sabia de nada. Muito menos de protocolos encomendados pelo HSJ ao abrigo de uma avença, de que ele, como director, sempre recebia uma parte. Além disso, é Professor e um Professor não se presta a redigir protocolos, só Tratados Internacionais.

Já nessa altura eu previa que um dia ele chegaria a ministro dos Negócios Estrangeiros com o gosto que já tinha para se ocupar de Tratados Internacionais. Agora, Protocolos relativos a hospitais, ainda por cima para crianças, isso não lhe interessava para nada, até porque ele nunca as iria ter.

Logo na queixa que apresentou no Ministério Público se defendia a dizer que não tinha sido ele o autor do Protocolo, como se alguma vez eu tivesse afirmado tal coisa. E atirou a responsabilidade da autoria para cima da sua subordinada Raquel Freitas, que ficaria mais tarde conhecida neste blogue por Quequé dos Protocolos ou simplesmente Quequé.

Aqui estava um chefe que não apenas não assumia a responsabilidade pelo que se passava no escritório sob a sua direcção, como atirava as responsabilidades para cima dos seus subordinados.

Durante o julgamento, quando a Quequé foi interrogada pelo magistrado X, este perguntou-lhe se tinha sido ela a redigir o Protocolo, como constava da queixa. Ela disse que não, que não foi só ela, foi ela e mais dois colegas, que nomeou. Mas quando o magistrado X insistiu e lhe perguntou, dentre os três, qual tinha sido o autor principal, ela fez um silêncio, pensou, pensou e depois respondeu: "Não me lembro".

No escritório da Cuatrecasas do Porto, na altura dirigido pelo actual primeiro-ministro em exercício, ninguém sabia o que andava a fazer e ninguém era responsável por nada, a começar pelo chefe.

É esta filosofia de gestão in absentia que o primeiro-ministro Paulo Rangel trouxe esta semana para o Governo e para a Administração Pública. Diz-se que tem sido um regabofe nos gabinetes ministeriais e nas repartições públicas. O primeiro-ministro entra às 9:00 no seu gabinete e sai às 9:15 para não saber sequer o que ficam os seus colaboradores a fazer durante o dia. 

A tal ponto que já há por aí quem murmure que num famoso gabinete anexo ao seu, onde há meses se escondiam 75 mil euros em notas, agora se pratica swinging.

(Continua acolá)

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