02 julho 2024

A Decisão do TEDH (252)

 (Continuação daqui)



252. Uma cultura de rapina


A entrevista que a bastonária da Ordem dos Advogados este fim de semana concedeu à TSF é uma entrevista defensiva (cf. aqui). A bastonária sabe que o clamor público que neste momento se abate sobre a justiça e que tem como alvo o Ministério Público em breve chegará à advocacia. 

Os magistrados do Ministério Público são, no fim de contas, também eles advogados (com pretensões a juízes), nos tempos do Estado Novo eram mesmo conhecidos por "advogados do Estado". A cultura é a mesma - é a cultura da Ordem dos Advogados.

No comentário televisivo que deu origem a este processo judicial (cf. aqui), eu utilizo a certa altura a palavra rapinar para dizer que a Cuatrecasas, agindo em nome do Hospital de S. João, queria rapinar a obra do Joãozinho (como, de facto, veio a acontecer).

Não se imagina o teatro que o Papá Encarnação - advogado da Cuatrecasas - fez em tribunal com a palavra "rapinar". RAPINAR!, repetia ele com largos gestos, à maneira do velho advogado de província, o edifício do tribunal quase tremia, para dar ênfase à suprema ofensa que eu tinha cometido sobre os advogados. RAPINAR!, insistia ele, e desta vez o edifício do tribunal tremia mesmo. Encolhido no banco dos réus eu receava que o edifício desabasse sobre mim.

Pois desde então, não só os advogados da Cuatrecasas rapinaram a obra do Joãozinho, como me rapinaram a mim próprio. Rapinaram-me cinco mil euros mais juros que lhes paguei como indemnização e que a decisão do TEDH veio dizer que não era devida. O director da Cuatrecasas, o advogado Paulo Rangel, esse rapinou-me 10 mil euros mais juros. 

E, sem ainda ser ressarcido em um cêntimo do que estes advogados me rapinaram (ressarcido pelo Estado, que não por eles) já tenho outro advogado em fila para me rapinar também (cf. aqui).

Nunca eu terei escolhido uma palavra tão certeira para descrever um dos elementos centrais da cultura dos advogados portugueses, sob a égide da Ordem dos Advogados. Rapinar.

É uma cultura de rapina

(Continua acolá)

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