23 junho 2024

A Decisão do TEDH (239)

 (Continuação daqui)



239. Os fariseus

Em Maio de 2018, nas vésperas da minha condenação no Tribunal de Matosinhos, escrevi este post que mantém toda a actualidade, na realidade, tornou-se ainda mais actual. Tinha o título "os burocratas de Deus" (cf. aqui). Trata das barreiras legalistas que os fariseus colocavam entre o homem e Deus (que representa o Bem, a Verdade e a Justiça). Dois milénios depois, regressámos às origens. É preciso tirar de novo os fariseus do caminho: 



Eu gostaria agora de voltar a um tema que aflorei em baixo, o da relação entre Cristo e os fariseus, porque ele é útil para explicar a história do Joãozinho e muitas outras histórias - na realidade, é uma espécie de regresso às origens civilizacionais.

Porquê a tensão entre Cristo e os fariseus?

Porque os fariseus escondiam Deus do povo, colocavam uma muralha entre o povo e Deus, de tal maneira que o povo não tinha acesso a Deus. Deus - o Bem -  era só para eles.

O fariseu era como o miúdo que só quer a bola para ele e a esconde atrás das costas de maneira que os outros não lhe possam tocar, nem sequer ver.

O judaísmo é uma religião de regras - a Lei Mosaica - e as pessoas chegam a Deus observando 613 regras ou leis. Os fariseus desenvolveram uma forte tradição de interpretação destas leis. Porém, esta interpretação tornou-se de tal modo complexa, minuciosa e rebuscada que as pessoas ficavam presas nas regras e descuravam Deus, o seu espírito ficava concentrado na legislação, e não no legislador.

Os fariseus e as suas leis tornaram-se um muro que impedia as pessoas de chegarem a Deus. Deus era só para eles, já que os outros se viam impedidos de lá chegar por uma muralha de leis. Com uma agravante: eles não cumpriam as regras tal como exigiam aos outros e aproveitavam-se frequentemente da interpretação das leis para benefício próprio.

Eles impunham um mundo complexo e difícil aos simples e reservavam outro, muito mais simples e melhor, para si próprios.  Daí a indignação de Cristo: "Hipócritas!".

Os fariseus eram, por assim dizer, os burocratas de Deus, de tal maneira que quem quisesse chegar a Deus tinha de passar primeiro por eles e por um emaranhado de procedimentos ou regras de que eles eram os guardiões. Como acontece com muitos burocratas, cobravam-se pelo meio. Havia que pagar os emolumentos: eles criavam dificuldades para depois vender facilidades.

A batalha de Cristo consistiu em tirar os fariseus e as suas leis do caminho e permitir a qualquer um o acesso directo a Deus. As 613 regras do judaísmo foram substituídas por uma só - amar a Deus e aos outros como a si mesmo. Era uma regra que não carecia de especialistas ou profissionais para a sua interpretação, qualquer um a podia compreender e aplicar. Cristo desburocratizou Deus.

E aquele que era um Deus distante e inacessível à maioria, tornou-se um Deus próximo e acessível a todos. Um Deus que era exclusivo de uns quantos tornou-se um Deus universal. Esta foi uma das grandes, talvez a maior, das revoluções do Cristianismo, que foi a de tornar Deus popular, a de democratizar Deus.

São estes mesmos fariseus que hoje se põem no caminho da obra do Joãozinho, que é uma obra de bem e portanto uma obra de Deus, com a imposição das suas regras, dos seus protocolos, dos seus pareceres, dos seus legalismos, dos seus processos judiciais.  E tudo aconteceu quando compreenderam que o Joãozinho não iria pagar emolumentos a ninguém.

Uma obra pública e de bem hoje não se pode fazer no nosso país sem passar pelos fariseus - a casta, como lhe chamei noutra altura, que se encontra sobretudo nos partidos políticos que controlam o Estado, nos administradores públicos e nas sociedades de advogados que os assessoram - e sem que eles cobrem os respectivos emolumentos.

É preciso voltar a Cristo e aprender com Ele como os tirar do caminho.

(Continua acolá)


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