05 junho 2024

A decisão do TEDH (204)

 (Continuação daqui)

Adriano Encarnação, advogado (Fonte: cf. aqui)


204. Homenagem aos ciganos

Já contei esta história mas vou, em parte, repeti-la na esperança de que a ONU eleja o dia 4 de Junho como o Dia Mundial do Cigano. É a minha contribuição, e uma contribuição genuína. Nunca tive razão de queixa dos ciganos. 

O Paulo Rangel e a Cuatrecasas exigiam de mim, cada um, 50 mil euros de indemnização, num total de 100 mil euros. 

Achei aquilo exagerado.

Mas, quando o Ministério Público validou a acusação, e ainda por cima me ameaçou com três anos na prisão (cf. aqui), eu decidi passar da indignação para a acção.

E neste blogue protestei de forma veemente, que não havia direito, e mais isto e mais aquilo, pedirem-me uma fortuna daquelas por crimes que não valiam nada, ainda se fosse por homicídio qualificado, tráfico de órgãos humanos, lavagem de dinheiro ou pedofilia ainda vá-que-não-vá, agora por ter chamado politiqueiro ao Rangel e juristas de vão-de-escada aos advogados da Cuatrecasas, não, era muito dinheiro para tão pouco crime.

Os meus protestos devem ter sido ouvidos porque à entrada para a primeira sessão do meu julgamento, o advogado Adriano Encarnação - que representava o Rangel e a Cuatrecasas e que eu, mais tarde, passaria a tratar carinhosamente por Papá Encarnação porque ele andava sempre acompanhado do filho - propôs-me um desconto.

Através da minha advogada, fez-me saber que desistia das acusações se eu pagasse cinco mil euros a uma instituição de caridade e fizesse um pedido oficial de desculpas ao Rangel e à Cuatrecasas, lavrado em acta do tribunal.

Fiquei desconfiado. Era muito desconto, carago! Eu nunca tinha tido um desconto de 95% na vida. Devia haver ali marosca.

Recusei.

Mais tarde, depois de reflectir maduramente sobre o assunto, decidi escrever um post neste blogue sob o título "Terá sido um cigano?" (cf. aqui), onde deixava o leitor na dúvida até ao fim acerca de saber quem me teria feito tal proposta - teria sido um cigano?

No fim, eu próprio dava a resposta. Não, não foi um cigano. Foi o Papá Encarnação. 

Nessa altura ainda não tinha saído a decisão do TEDH. Mas, agora, que a decisão está cá fora, a conclusão a tirar é que aquela crimalhada toda nem cinco mil euros vale, na realidade não vale nada. O TEDH diz que não há crime nenhum, que é liberdade de expressão.

Por isso, olhando hoje, em retrospectiva, eu creio que aquele post foi a melhor homenagem que eu poderia ter prestado aos ciganos. Mesmo quando pedem um preço exagerado, os ciganos oferecem normalmente qualquer coisa em troca, nem que seja uma carteira Gucci de contrafação.

Agora, o Papá Encarnação exigiu-me 100 mil euros em troca de nada. Maior ciganice eu não consigo imaginar.

(Continua acolá)

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