(Continuação daqui)
84. Paradoxos
G. K. Chesterton é um dos meus autores preferidos, ninguém como ele - à excepção talvez do teólogo Joseph Ratzinger - me ajudou tanto a compreender a cultura católica do país em que nasci.
Ele vinha de fora do catolicismo, do anglicanismo, e podia apreciar e fazer sobressair os aspectos da cultura católica que aqueles que nascem dentro dela nunca se conseguem aperceber.
A cultura católica é uma cultura feminina e conhecê-la é tão difícil como conhecer uma mulher. É uma cultura complexa, popular, rebuscada, contraditória, a espaços sofisticada. A cultura protestante, pelo contrário, sendo uma cultura masculina, é muito mais simples, linear e previsível. Talvez por isso o protestantismo tenha liderado a civilização nos últimos séculos, na economia, na ciência, na técnica, até na política. A democracia é um produto distintivo do protestantismo cristão.
Chesterton trouxe ao de cima um aspecto da cultura católica que nunca ninguém tinha notado, certamente que não com a intensidade e a clareza com que ele o fez - o seu carácter paradoxal. Ele ficou encantado com o catolicismo por causa do paradoxo, de uma coisa poder ser ela e o seu contrário ao mesmo tempo, e acabou por se tornar, ele próprio, o Mestre do Paradoxo.
É altura de perguntar, ao longo deste processo judicial que já leva quase nove anos, qual foi o maior paradoxo que encontrei. A resposta é muito simples porque o paradoxo que vou indicar não tem concorrente próximo. No dia em que cheguei a essa conclusão eu não conseguia acreditar.
Eu não conseguia acreditar que na justiça em Portugal até um criminoso podia chegar a juiz do Supremo.
(Continua acolá)
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